9.10.09

Países devem apertar o cinto depois da crise

Alexandra Figueira, in Jornal de Notícias

O Banco Central Europeu foi um dos maiores apoiantes do aumento da despesa dos governos para combater a crise, mas agora adverte que, quando a economia recuperar, será preciso voltar a "emagrecer" os estados.

O aviso foi deixado ontem pelo governador do BCE, depois de mais uma reunião em que foi decidido manter a taxa de juro directora em 1%. Para Jean-Claude Trichet, dentro de um ano, os países devem estar a preparar-se para a apertar o cinto (ou voltar a fazê-lo, no caso de Portugal), para que os défices orçamentais regressem a níveis inferiores a 3%, como prevêem as regras comunitárias.

E, para alguns, o aperto será maior do que para outros. Trichet não especificou a quem se referia, mas disse que os países com maior défice e/ou dívida devem fazer um esforço suplementar e "emagrecer" ao ritmo de um ponto percentual do PIB por cada ano, o dobro do que está previsto no Pacto de Estabilidade e Crescimento. Para todos os países, contudo, a receita é a mesma: a redução do défice deve ser feita cortando nas despesas e não espremendo mais os impostos das empresas e das famílias.

Juros vão subir

Trichet admite que as medidas de contenção do défice sejam implementadas perto de 2011 e nunca antes de a economia estar devidamente sedimentada. Para já, existem sinais de recuperação, como o aumento das exportações, na Europa, compradas por empresas que tinham cortado stocks e estão agora a repô-los (um impacto que se sente agora, mas que não durará para sempre).

Da mesma forma, a inflação - a principal preocupação do BCE - continua negativa, mas porque ainda está a ajustar-se ao pico a que chegaram os preços dos combustíveis, matérias-primas e alimentos, no ano passado. Nos próximos meses, deverá voltar a haver inflação, ainda que ligeira.

Os sinais de recuperação são, contudo, frágeis e Trichet recomenda cautela. Por isso, decidiu não subir os juros (ainda esta semana o banco central australiano subiu as suas taxas de referência). Mas a prazo, tudo indica que o BCE também o fará e a Banca europeia deverá já antecipar esse momento e - não se sabe quando nem em que medida - voltar a subir a Euribor, a taxa que serve de referência aos juros pagos nos créditos à habitação.