7.12.09

A palavra aos consumidores

Por Pedro Matos Branco, in Jornal Público

Numa semana com escassa informação macroeconómica, assistir-se-á seguramente a um compasso de espera para a reunião sobre política monetária da Reserva Federal de 16 de Dezembro (Federal Open Market Commitee), com as atenções a começarem a centrar-se, muito seguramente, na época festiva que se aproxima.

Nos Estados Unidos, dois indicadores significativos relativamente ao comportamento das famílias: as vendas a retalho e a confiança dos consumidores (Universidade de Michigan). No primeiro, é de admitir um ligeiro crescimento em Novembro, assente nas componentes de vendas de automóveis e combustíveis (gasolina), embora em perda de ritmo face às despesas verificadas em Outubro; se excluirmos a vertente dos automóveis, é de prever que se possa verificar uma quase estagnação das vendas a retalho, tal como já tinha ocorrido no mês anterior, sugerindo que os efeitos positivos no consumo privado do pacote fiscal implementado pela Administração Obama terão atingido o seu pico máximo no 3.º trimestre. No entanto, as indicações relativas ao volume de negócios no Black Friday (dia seguinte ao importante feriado do Thanksgiving e considerado o primeiro dia das vendas relativas à época festiva do Natal) foram bastante animadoras, o que, a prolongar-se por Dezembro, poderá fazer concentrar neste período despesas adiadas de meses anteriores.

Quanto à confiança dos consumidores é de esperar que se observe uma ligeira melhoria em Dezembro (68,8 pontos), embora longe da sua média histórica (86,6) e ainda afastada do melhor valor recente (73,5), verificado em Setembro. Uma atenção especial será dada às expectativas das famílias quanto à evolução de preços nos próximos anos, uma vez que este sentimento sobre a inflação constitui um vector central da Reserva Federal sobre as decisões de política monetária. O último valor conhecido, do mês de Novembro, evidenciava um valor de 3% para as expectativas inflacionistas das famílias, no horizonte temporal de 5 anos, ainda um pouco aquém da média dos últimos vinte anos. Realce-se que na última reunião do Federal Open Market Committee (4 de Novembro), a Reserva Federal tornou explícita a grelha de leitura que permite proceder à avaliação das condições económicas subjacentes à manutenção, por um período considerável de tempo, da taxa Fed Funds no intervalo entre 0% e 0,25%: nível de utilização dos recursos produtivos, trajectória recente da evolução de preços e expectativas inflacionistas. No conjunto, as três vertentes não vislumbram ainda quaisquer sinais de alarme que apontem para uma subida de taxas, em particular nas duas primeiras, que se encontram bem aquém dos seus valores médios de sempre.

Na zona euro, os dados mais relevantes a serem divulgados dizem respeito à produção industrial de Outubro nas três maiores economias, Alemanha, França e Itália. São esperados registos relativamente favoráveis nos três países, particularmente nos dois últimos, que deverão regressar, em termos mensais, a território positivo, sugerindo que a actividade do sector poderá verificar um bom desempenho no 4.º trimestre. Aliás, este facto foi confirmado pelo comunicado da reunião do conselho de governadores do BCE da passada quinta-feira, ao reconhecer que a informação disponível sugere que a recuperação da actividade irá continuar durante o 4.º trimestre de 2009, beneficiando do ciclo de reconstituição de stocks e da recuperação das exportações. Contudo, ao admitir que alguns dos factores de bom comportamento têm carácter temporário e que a retoma ainda tem de observar passos mais consistentes (em simultâneo com inflação controlada), o conselho decidiu manter a taxa refi em 1%, considerando este um nível adequado na presente conjuntura. A decisão mais relevante consistiu, no entanto, na confirmação de que a cedência de liquidez pelo prazo de 1 ano, a ocorrer em 16 de Dezembro, será a última e a uma taxa de juro variável a ser conhecida durante o período de duração da cedência, e não a 1% como nas duas anteriores operações.

No Reino Unido, ocorrerá a reunião do comité de política monetária, na próxima quinta-feira, não sendo de esperar alterações nem na principal taxa directora, a base rate, que se manterá em 0.5%, nem quantitative easing, aquisição de títulos, até ao montante de GBP 200 mil milhões.

ES Research - Banco Espírito Santo