4.12.09

Pode Portugal começar a ter di ficuldades em endividar-se?

in Jornal Público

Já não é o objectivo de adoptar o euro, como no final dos anos 90, nem a necessidade de cumprir as regras europeias, como em 2003. Desta vez, a razão por trás de uma nova urgência na redução do défice público é a ameaça de que os mercados internacionais comecem a desconfiar da capacidade do Estado português para cumprir os seus compromissos e deixem de emprestar dinheiro ao país a taxas de juro razoáveis.

O risco de um cenário deste tipo aumentou consideravelmente com a crise financeira dos dois últimos anos. Agora, os investidores internacionais, que emprestam dinheiro ao Estado português através da compra de obrigações, estão a olhar com muito mais prudência para os países que revelam um controlo reduzido das suas dívidas. E além disso, com os défices na generalidade dos países a disparar, a concorrência entre os Estados para obter financiamento aumentou.

Neste ambiente, Portugal pode ser um dos países mais afectados. O diferencial das taxas de juro suportadas nas emissões de dívida pública portuguesa em comparação com a principal referência europeia, a Alemanha, é actualmente de cerca de 65 pontos base, um valor que fica muito abaixo dos máximos atingidos no auge da crise, mas que é bastante mais do que o normalmente registado antes da crise, quando o diferencial nunca ultrapassava os 20 pontos. Além disso, duas das principais agências de notação financeira preparam-se para, nos próximos meses, baixar o rating atribuído a Portugal - algo que faz aumentar a percepção de risco dos investidores.

A favor de Portugal estão também alguns indicadores: até agora, todas as emissões de dívida pública realizadas por Portugal nos mercados têm sido bem sucedidas. E para consolação nacional, há dois países da zona euro que se encontram numa situação muito mais difícil: a Irlanda e a Grécia.