Por Lurdes Ferreira, in Jornal Público
É a área mais discreta da política de energia e clima, mas sem a qual não se chega às metas de 2020. Poupança equivale à produção de sete centrais
"Políticos seguem o caminho errado"
Ao fim de 17 anos consecutivos a gastarem cada vez mais electricidade, as famílias europeias baixaram pela primeira vez, em 2007, o seu consumo, revelou o Instituto para a Energia da União Europeia. A quebra, de 0,7 por cento, não é aparentemente expressiva, mas verificou-se num ano de crescimento económico e quando ninguém previa a crise que se abateria no ano seguinte sobre a Europa e a economia mundial.
Foram sobretudo os grandes países e alguns dos novos Estados-membros que contribuíram para esta quebra e que os especialistas explicam serem os primeiros efeitos visíveis das medidas de promoção de eficiência energética vigentes na Europa, especialmente desde 2005. Apesar de nem todos os países terem seguido a mesma bitola - Portugal situou-se entre os 14 Estados-membros que até viram o seu consumo aumentar, com mais 3,3 por cento -, os resultados indicam que onde o consumo continuou a subir, isso verificou-se globalmente de forma mais lenta do que no passado, não sendo apenas referente a um ano, mas a uma trajectória iniciada desde 2004.
Entre 1990 e 2007, o consumo final de electricidade dos Vinte e Sete cresceu 32,8 por cento, enquanto de 2004 a 2007 foi 4,46 por cento superior. De 2006 para 2007, caiu 0,7 por cento.
As medidas lançadas nos últimos anos pela Comissão Europeia, em favor de equipamentos mais eficientes e de mudanças de comportamento, através da fixação de níveis de eficiência e de troca de lâmpadas entre outros, fazem parte da área menos mediática de política europeia de clima e energia e mais complexa de acompanhar, por se desenvolver sobretudo a partir de programas voluntários. As medidas vinculativas surgem de forma indirecta, por exemplo, através dos níveis de eficiência energética a adoptar pelos fabricantes de equipamentos.
Optimistas quanto à tendência, os autores do relatório do Instituto para a Energia, divulgado no final da semana passada, admitem não terem todas as certezas, dados os últimos Invernos terem sido mais quentes do que a média e o recurso ao aquecimento ter sido menor.
A eficiência energética não atrai os mercados financeiros que apostam no comércio do carbono, não é apelativa como as novas tecnologias de energia e os seus efeitos difusos não seduzem os políticos. Contudo, a União Europeia não chega às metas de 2020 sem ela - garantem os especialistas e os próprios cálculos do pacote de energia e clima da União Europeia - tanto que é uma das suas três metas, a par da das energias renováveis e do comércio de carbono.
Os "três vintes"O pacote dos "três vintes" estabelece, até 2020, uma redução em 20 por cento das emissões de CO2, um aumento de 20 por cento de energias renováveis no consumo de energia e um aumento de 20 por cento na eficiência energética, o que significa que o seu contributo é tão importante para o período de Quioto, que termina em 2012, como para o pós-Quioto que se negoceia para a cimeira de Copenhaga.
Os investigadores do Instituto para a Energia da UE estimam que o potencial de poupança anual de energia eléctrica até 2020, só à conta da directiva europeia do ecodesign (equipamentos mais eficientes), é de 12 por cento do consumo final de electricidade verificado em 2007, dispensando a emissão de CO2 de sete centrais eléctricas ditas convencionais. São, no total, 2,6 a quatro por cento dos objectivos europeus de Quioto.
Depois, há ainda a contar com a própria mudança de hábitos dos consumidores, defendendo-se que a eficiência energética não reduz o nível de conforto das sociedades, como sublinha Bogdan Atanasiu, da unidade de energias renováveis do instituto europeu (ver texto). No bolo das poupanças possíveis até 2020, a fatia do sector residencial e de serviços é a mais elevada com 28 por cento, seguindo-se os transportes (26%) e a indústria (25%), face a 2005.
A UE tem actualmente três programas voluntários em curso: redução do consumo para iluminação pública e serviços; adopção de motores mais eficientes por parte das indústrias; aplicação de medidas de eficiência em edifícios de serviços, com mais de 650 parcerias. Do lado da política pública, os países-membros traduziram os seus compromissos de 20 por cento de aumento de eficiência energética através dos planos nacionais de eficiência energética e foi ainda lançado o Pacto dos Autarcas, num total de mais de 700 cidades europeias, portuguesas incluídas, com o mesmo objectivo.


