27.1.10

Escola portuguesa não deixa esquecer Auschwitz

Pedro Vaz Marques, in Tvi

Ao contrário do que se pode ler à entrada de Auschwitz, não é o trabalho que liberta, mas sim a memória. É para não deixar esquecer que a Escola Secundária de Valpaços tem um projecto que pretende reviver o Holocausto pelos olhos da nova geração


27 de Janeiro. É neste dia, hoje, que se assinala o dia da memória das vítimas do Holocausto. Judeus, negros, ciganos, homossexuais, todos eles foram vítimas de perseguição e extermínio, conhecido como a solução final, que ceifou pelo menos 20 milhões de pessoas. Existem estudos que apontam para um número muito superior de vítimas, mas a certeza é que um dos grupos mais atingidos foram os polacos. Pelo menos 6 milhões terão perdido a vida às mãos do nazismo.

A Polónia não esquece o que sofreu e as vidas que perdeu. Nas ruas de Varsóvia, de Cracóvia ou de outras cidades do país a memória permanece como um peso inultrapassável. Foi esta sensação, entre edifícios modernos que contrastam com aqueles que sobreviveram, que o professor João Salvador, da Escola Secundária de Valpaços, encontrou em Auschwitz.

Em Setembro de 2009, numa actividade do Conselho da Europa, o professor deslocou-se à Polónia e sentiu que não podia deixar passar em branco o que sentiu. Propôs à sua escola que o Holocausto fosse o tema da área de projecto do 12º ano da área de Línguas e Humanidades, a qual se associou depois o 11º, e assim nasceu o projecto «Auschwitz na 1ª pessoa».

Através de um protocolo com o Liceum Stanislawa Konarskiego, de Auschwitz, foram criadas 17 equipas, compostas por um português e por um polaco. O aluno polaco deve escrever uma reflexão sobre como é ser um jovem em Auschwitz e sobre como o Holocausto tocou e toca a sua vida. O aluno português deve depois, com base nas informações recebidas, recriar um diário, imaginando que está entre 1939 e 1945, a viver o drama do Holocausto e da implantação do Nazismo.

O diário deverá estar pronto no final do ano lectivo e entre 14 e 17 de Abril os alunos portugueses vão a Auschwitz conhecer os colegas polacos e ver e sentir o que escreveram ao longo de meses. Mais tarde deverá ser editado um livro com os trabalhos realizados.

Apadrinhado pelo Nobel

Das palavras do professor João Salvador nota-se o entusiasmo pela realização do projecto. «Não só os alunos portugueses estão a descobrir uma realidade sobre a qual nada sabiam, como os alunos polacos estão a explorar e a conhecer melhor a sua história».

Na Polónia, os estudantes estão a falar com familiares mais velhos ou vizinhos que sobreviveram aos anos terríveis do extermínio. Já em Portugal os alunos estão a fazer pesquisa histórica e a tentar contactar, em Israel , aqueles que tenham vivido em Auschwitz na altura da II Grande Guerra Mundial. «É preciso tentar saber o nome das ruas, as lojas da altura, tentar viver o quotidiano que se sentia na altura», explica o professor.

O projecto «Auschwitz na 1ª pessoa» é apadrinhado por Elie Wiesel, prémio Nobel da Paz em 1986, judeu e escritor, sobrevivente dos campos de concentração de Auschwitz e Buchenwald. São dele as seguintes palavras de incentivo aos estudantes do projecto: «É minha convicção que aquele que ouve uma testemunha se torna uma testemunha, por sua vez. Com o vosso conhecimento podeis tornar-vos uma força poderosa na preservação da Memória. Percebe-se que conheceis bem a grande importância da Memória. Espero que se mantenham sempre fiéis ao vosso compromisso de prestar testemunho. Jovens como vós dão-me esperança para o futuro. Continuem a aprender e a ler, mais e mais...»

Como não podia deixar de ser, no dia em que se assinala o dia da memória das vítimas do Holocausto, a Escola Secundária de Valpaços lança uma exposição sobre o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, seguido de uma apresentação no auditório principal. Porque não se pode esquecer.