22.1.10

Europa tem estratégia para combater pobreza

Helena Teixeira da Silva, in Jornal de Notícias

Madrid acolheu, ontem, quinta-feira, as cerimónias de arranque do Ano Europeu


Começou ontem oficialmente o Ano Europeu de Combate à Pobreza e à Exclusão Social. Na cerimónia de abertura, em Madrid, todos os países assumiram o compromisso de erradicar os 80 milhões de pobres que habitam a Europa.

Os discursos oficiais de abertura do Ano Europeu de 2010 contrastam com o testemunho de quem experimentou as desigualdades sociais e demonstram que os compromissos assumidos nos últimos dez anos falharam. Um em cada seis europeus ainda vive abaixo do limiar da pobreza. A nova meta é agora 2020. "Acabemos com a pobreza já!" é o slogan que ontem motivou o encontro entre o presidente da Comissão Europeia e o primeiro-ministro de Espanha - neste semestre ocupa também a presidência da União Europeia-, numa iniciativa de onde saiu um acordo social a nível comunitário. Com um longo caminho a percorrer.

Durão Barroso defendeu que a "principal meta é a criação de emprego" e invocou a necessidade de participação dos cidadãos desfavorecidos na resolução do problema. Mas Zoltanne Szvoboda, da Hungria, mãe de quatro filhos, explicou a dificuldade. "Para defendermos os nossos direitos temos de estar informados sobre eles. Mas é difícil estarmos informados quando a nossa única preocupação é saber como vamos sustentar os filhos no dia seguinte".

José Luis Zapatero sublinhou a importância de criar um modelo social europeu capaz de integrar toda a gente, sobretudo as mulheres e as pessoas com mais de 65 anos. Mas Mirko Grca, italiano de 52 anos, etnia cigana, relatou a experiência de viver sem identidade. "Vivemos em acampamentos, não temos direito a casa, a nada, os nossos filhos não têm nacionalidade, não têm documentos, ninguém sabe quem são. Vou a uma empresa, alguém vai dar-me emprego?", perguntou. "Não queremos ser privilegiados; queremos ser reconhecidos como minoria étnica. Em vez disso, andamos na rua a mendigar". Nas ruas da Europa vivem 10 milhões de ciganos. Daí que Vladimir Spidla, comissário europeu do Emprego e Igualdade de Oportunidades, tenha reforçado que "é preciso combater os estereótipos, porque são eles a origem da discriminação. Combater a exclusão", insistiu, "não é uma questão de generosidade, mas de responsabilidade pública".

A comunhão de vontades está assumida e a estratégia europeia será inaugurada em Portugal a 6 de Fevereiro. O resultado das apostas dos últimos dez anos "foi decepcionante", reconheceu Maria João Rodrigues, ex-ministra de António Guterres. "Mas o balanço da Estratégia Lisboa foi eficaz na criação de emprego - 4 milhões de postos de trabalho". A questão, formula a própria, é: "Como é que tivemos ao mesmo tempo tanto emprego sem redução da pobreza?" Os empregos, responde, "não eram qualificados. Qualificá-los tem de ser a prioridade da estratégia europeia".