23.1.10

Onda de solidariedade para irmãos pobres de Viseu

por Amadeu Araújo,in Diário de Notícias

Sónia toma conta de um rapaz e duas raparigas. Recusou família de acolhimento.

Em menos de 24 horas gerou-se uma onda de solidariedade para ajudar Sónia Lisboa, a jovem de 19 anos que toma conta dos três irmãos e sobrevive com apenas 220 euros por mês. No sítio da Internet do DN foram dezenas a querer ajudar e o mesmo aconteceu em Vila Nova de Paiva, distrito de Viseu, onde os irmãos vivem numa casa cedida pela câmara. A adolescente agradece, e diz que "não esperava ver tanta gente boa disposta a ajudar". A Segurança Social quis enviar os irmãos para uma família de acolhimento. Sónia recusou porque prometera à mãe manter os mais novos unidos.

No bairro social onde vivem a situação dos quatro irmãos apanhou muitos de surpresa ."Andamos tão preocupados que às vezes nem ligamos ao que está à nossa volta", desabafa Cristina Santos. "Não fazia ideia de que eles tivessem tantas dificuldades", diz Manuel Loureiro, proprietário de um café na vila.

Como contou o DN na edição de ontem, a mãe de Sónia morreu há nove meses. Deixou 12 filhos. Oito deles emigraram. O pai "abandonou a família quando nasceu o último filho e foi residir para outro concelho. Nunca mais nos ligou", diz Sónia, que desde a morte da mãe ficou sozinha a tomar conta do rapaz e das duas raparigas, que "ainda estudam".

Os quatro vivem no limiar da pobreza, com apenas 220 euros por mês do rendimento social de inserção, dos quais pagam água, luz, renda e alimentação. "É preciso alguma ginástica ou comprar fiado para que não falte comida na mesa", diz ao DN. "Não há dinheiro para comprar roupas ou calçado", e o que vestem é dado por amigos ou instituições.

A reportagem originou uma onda de solidariedade que arrancou no sítio do DN (ver texto ao lado) e ao longo do dia a autarquia "foi contactada por muitas pessoas dispostas a ajudar", conta o autarca. José Morgado assegura que "o caso está sinalizado, já lhe atribuímos uma casa e iremos continuar a olhar por esta família". Sónia agradece, mas pede "recato". Lembra que "os irmãos são menores e andam na escola" e que "prometeu [à mãe] cuidar deles com dignidade".

Após a morte da mãe, em Maio do ano passado, a Segurança Social sugeriu a Sónia o encaminhamento dos irmãos para uma família de acompanhamento. "A Segurança Social disse que ajudava, mas iria encaminhar os irmãos para instituições de acolhimento e a Sónia recusou", diz Acácio Fonseca, comandante dos bombeiros. Até aí recebiam abono de família, que cessou quando a mãe morreu.

Contactado pelo DN, o Ministério da Solidariedade Social não quis fazer qualquer comentário.