26.5.10

O dia dos doentes que muitas vezes já acordam cansados

Gina Pereira, in Jornal de Notícias

Esclerose múltipla afecta mais de cinco mil pessoas em Portugal. Mercado laboral rejeita-as


Comemora-se hoje o Dia Mundial da Esclerose Múltipla, doença que afecta mais de cinco mil pessoas em Portugal e dois milhões em todo o Mundo. Trata-se de uma inflamação crónica e degenerativa do sistema nervoso central, que o mercado laboral rejeita.

Os primeiros sintomas apareceram quando Luísa Matias tinha 14 anos: "visão turva, falta de força nas pernas e um cansaço tremendo, inexplicável". Começou por consultar um oftalmologista, depois um ortopedista, um fisioterapeuta e um clínico geral. Todos lhe diziam que estava bem e ela, inconformada, "desistiu de procurar" uma explicação. "Eu sabia que tinha alguma coisa, só não sabia o nome", contou, ao JN, explicando que só aos 26 anos, quando uma neurologista a mandou fazer uma ressonância magnética, encontrou um nome para o seu cansaço: esclerose múltipla, diagnóstico que primeiro a assustou e com o qual, entretanto, aprendeu a lidar. Pensando positivo.

Tal como a esmagadora maioria dos doentes, Luísa tem uma forma da doença que se manifesta por surtos de remissão, o que significa que a sua vida se assemelha a uma "montanha russa". Há fases em que está bem, outras em que fica bastante debilitada de cansaço. Mas isso nunca a impediu de fazer a sua vida normal, incluindo jogar basquetebol.

Licenciou-se em "Novas Tecnologias da Comunicação" na Universidade de Aveiro e, quando a doença lhe foi diagnosticada, já estava a trabalhar numa empresa na área da comunicação. Mas não esconde que as suas limitações nem sempre foram compreendidas e que constituíram mesmo a razão do seu despedimento, quando chegou a hora de cortar custos.

"Nós, às vezes, passamos um bocado por preguiçosos. Mas não é preguiça. Nós já acordamos cansados e acordar cansado é uma canseira", dizia, ontem , à margem da apresentação do estudo "Empregabilidade e Esclerose Múltipla" (ler texto em baixo), que revela que mais de metade dos doentes portugueses se encontram inactivos, muitos por reforma antecipada.

Aproveitando o facto de estar desempregada, Luísa decidiu fazer um curso de Empreendedorismo e Gestão Empresarial. Desde há dois meses, trabalha na Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla, em Lisboa. Quer ajudar outros doentes e sensibilizar as entidades patronais para o facto de estas pessoas necessitarem de apenas alguns ajustes para poderem continuar a trabalhar. "Não ficamos todos incapacitados. Somos é diferentes".