20.5.10

Temos todos de mudar de vida, avisam os banqueiros

por Paula Cordeiro, in Diário de Notícias

Fórum Banca. Responsáveis dos 5 maiores bancos assinalam crescentes restrições ao crédito


Crédito em retracção, necessidade de maior poupança, ordem nas contas públicas. Estas foram as principais mensagens deixadas ontem pelos cinco principais banqueiros portugueses, ao analisarem o "ciclo infernal" de crises que o mundo atravessa, nas palavras de Ricardo Salgado.

O presidente do Banco Espírito Santo (BES) falava no VIII Fórum Banca e Mercado de Capitais, organizado pelo Diário Económico, que debateu o actual momento financeiro. Apesar de todos apontarem as dificuldades, ninguém falou em falta de liquidez grave na banca portuguesa.

Os oradores foram unânimes em considerar que o problema mais urgente consiste na restrição financeira que todos os agentes económicos vivem. "O crédito vai ser um recurso escasso, mais difícil de obter e mais caro", afirmou Fernando Ulrich. Para o presidente executivo do Banco BPI, as suas principais prioridades enquanto banqueiro serão o financiamento às PME e ao crédito à habitação. "Os bancos estão a fazer um subsídio gigantesco às famílias", referiu.

Quanto aos financiamentos de médio e longo prazo a grandes projectos, Ulrich defendeu que não devem avançar enquanto o mercado de capitais não estiver restabelecido.

Por seu lado, Carlos Santos Ferreira, presidente do Millennium bcp, prevê uma retracção do crédito para este ano. "Alguma coisa não está bem na vida de todos nós, algo é necessário alterar", referiu, sublinhando que é absolutamente "indispensável uma poupança nacional sólida".

Também Faria de Oliveira, presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) alertou para a necessidade de os portugueses "mudarem radicalmente de vida. O nosso nível de vida vai baixar. O momento é sério".

O ataque à actuação das agências de rating foi igualmente um denominador comum entre os banqueiros. Na opinião de Ricardo Salgado, a actuação destas agências agravou a situação financeira. O presidente do BES considerou igualmente que o Banco Central Europeu demorou muito tempo a actuar, deixando "os especuladores à solta".

Ainda no que respeita às agências de notação financeira, Santos Ferreira sugeriu que a Europa deverá passar a "tocar-lhes nas carteiras, que é a linguagem que as comove".

Nuno Amado, presidente do Santander Totta, defendeu os mesmos pontos de vista, afirmando que o sector privado tem de ajustar os seus níveis de poupança e consumo.