24.10.10

Países emergentes ganham força na estrutura do FMI

Por José Manuel Rocha, in Jornal Público
Alcançado na Coreia do Sul acordo histórico para reduzir o peso dos estados mais desenvolvidos na direcção do Fundo Monetário Internacional


Por entre algum descrédito sobre a capacidade das organizações multilaterais para alcançarem consensos, os ministros das Finanças do G20 (as 20 economias mais desenvolvidas do mundo) mostraram ontem que ainda é possível estabelecer pontos de acordo mesmo entre países com divergências assinaláveis.

Reunidos na Coreia do Sul, os responsáveis dos 20 países e blocos económicos mais poderosos acordaram numa reforma da estrutura de governação do Fundo Monetário Internacional que concede mais poder aos estados emergentes - entre os quais se contam o Brasil, a China e a Índia.

Até agora, quem mandava no FMI era a Europa e os Estados Unidos - juntos, garantiam praticamente metade dos votos na estrutura directiva da organização. A UE com 32 por cento e a administração norte-americana com cerca de 18 por cento. A China, por exemplo, que é actualmente a segunda maior economia do mundo, só tinha 4 por cento dos direitos de voto.

Ontem, os ministros acabaram com esta repartição desigual de poderes no Fundo Monetário Internacional. E, no quadro do acordo, a União Europeia irá ceder dois dos seus nove lugares na direcção do FMI para os países emergentes. Ficará, também, sem 6 por cento dos votos que mantinha na actualidade.

Anúncio surpresa

"É a maior reforma alguma vez realizada no sistema de governação da instituição", comentou Dominique Strauss-Kahn, director-geral do FMI, também presente no encontro da Coreia do Sul, bem como o líder do Banco Mundial e os governadores dos bancos centrais.

O anúncio desta decisão apanhou completamente de surpresa o mundo económico planetário. As expectativas para o encontro era de intenso debate e divergência sobre a desvalorização competitiva de algumas moedas e a forma de estabilizar os mercados cambiais.

Mas o assunto saltou para a agenda por força da pressão dos estados emergentes, que há muito reivindicam maior peso na estrutura de uma organização que é fundamental no quadro da regulação da economia mundial. No fundo, os chamados países em franco desenvolvimento exigiam um nível de representação mais consentâneo com o peso que actualmente assumem no contexto económico mundial.

Strauss-Kahn revelou ontem que o Fundo Monetário Internacional irá reunir-se na próxima semana para dar concretização ao acordo e a delegação prometeu também novidades na escolha dos países que irão deixar de ter assento na direcção do FMI.