30.10.10

Poupança a subir com a crise

Erika Nunes, in Jornal de Notícias
Facilidades endividaram as famílias, mas o susto está a ensinar de novo o valor de um aforro


Os portugueses têm pouco o hábito de poupar e, mesmo quando o fazem, por vezes limitam-se a deixar o dinheiro numa conta sem remuneração. No Dia Mundial da Poupança, subsiste a dúvida: os portugueses não sabem ou não podem poupar o que não têm?

Provalvemente, ambas as respostas estarão certas, a julgar pelos resultados do Inquérito à Literacia Financeira da População Portuguesa, elaborado pelo Banco de Portugal e cujos resultados foram divulgados recentemente, a par dos dados do endividamento das famílias que vão sendo recolhidos pelas associações a que recorrem, como a DECO ou a APOIARE (www.endividamento.pt). Apesar de saberem pouco de Finanças, segundo o Instituto Nacional de Estatística a taxa de poupança dos particulares subiu desde o início da crise financeira, situando-se actualmente nos 11% - um valor que já não se via desde 2003. Nos anos 70, era de 30%.

Gastar ou poupar

A facilidade do crédito na década de 90 e no início dos anos 2000, terá sido, afinal, a culpada da crise. Se, nos anos 70, as taxas de juro de um crédito facilmente ultrapassavam os 30% - logo, praticamente ninguém podia endividar-se para adquirir sofás, LCD's, automóveis ou férias -, a descida das taxas de juro, inclusive com bonificação do Governo para a habitação, há uns anos, criou uma euforia descontrolada de consumismo que, com a crise, hoje sufoca os bancos com o malparado.

Mais uma vez, foi com a intervenção de benefícios fiscais para contas poupança habitação, planos poupança reforma ou seguros de vida, de saúde e de acidentes pessoais que alguns produtos destinados à poupança mantiveram o crescimento recente, uma vez que os juros dos depósitos a prazo, elevados nos anos 70, raramente chegam a 3% por agora. Cerca de 15 mil milhões de euros estavam aplicados em PPR no final de 2009 (+11,6% face a 2008), é previsível que tais aplicações venham a perder adeptos com o cancelamento dos benefícios fiscais. Ainda assim, restam outras opções (ver ficha ao lado) para poupar da melhor forma para cada um.