26.10.10

Alta velocidade na origem de 20% dos acidentes com jovens

Eduarda Ferreira, in Jornal de Notícias

Em Portugal, o risco de morte por acidente rodoviário dos jovens entre os 18 e os 24 anos é duplo face ao de todas as outras idades. Alterar esta realidade é o objectivo de uma recolha de ideias entre os próprios jovens para uma prevenção mesmo convincente.

"A juventude não autoriza que lhe impinjam campanhas". A constatação foi ontem, segunda-feira, feita por Laurentino Dias na abertura de dois dias de trabalho organizados pela Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP) e que reúnem em Lisboa representantes de várias entidades com afinidade à segurança nas estradas, mas sobretudo enviados de todo o país por delegações do Instituto Português da Juventude.

É no quase milhar e meio de associações juvenis que o secretário de Estado da Juventude e dos Desportos deposita a esperança de "ajudarem a minorar este drama". E o drama consiste em que 16% dos mortos em acidentes rodoviários tinham entre os 18 e os 24 anos. Um fenómeno que se repetiu entre 2003 e 2007.

"Os limites são testados e forçados no período da juventude", alertou Anabela Simões. Esta especialista do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra referiu também na sua intervenção que, apesar de terem tempos de reacção rápidos, os mais jovens não têm ainda automatismos, os quais se instalam com a experiência de conduzir. Eles estão mais centrados no próprio veículo, interpretam os riscos como de menor importância e são mais facilmente distraídos por acontecimentos não relacionados com a condução.

De acordo com Anabela Simões, a alta velocidade está na origem de 20% dos acidentes com jovens, que ocorrem também mais nas noites de fim de semana.

O álcool e as drogas também influem neste tipo de sinistralidade, em que conta muito também a presença de passageiros. Ainda não estão contabilizadas as consequências fatídicas dos hábitos recentes de falar ao telemóvel, escrever e ler mensagens de texto, mas "este está a ser um comportamento muito frequente entre os jovens", assinalou Anabela Simões.

As sessões de ontem e hoje têm como objectivo criar uma rede de sensibilização dos jovens, activada pelos próprios jovens "Vamos 18-24" é o nome dado à iniciativa que visa encontrar uma estratégia de comunicação eficaz sobre os riscos da sinistralidade entre os jovens.

Um dos especialistas convidados para ontem falar da especificidade de atitudes, o holandês Willem Vlakveld, afirmou que "as capacidades (na condução) não são assim tão determinantes, mas sim o ser capaz de calibrá-las com as circunstâncias", nomeadamente as de outros condutores e da estrada.

Certo é que "a procura de sensações fortes" é uma característica dos 20 anos nos rapazes (mais cedo nas raparigas), acarretando comportamentos de risco. Alertar para essa realidade poderá ser dos motes escolhidos, dentro de dois a três meses, pela iniciativa "Vamos 18-24".