por Vera Monteiro, in Diário de Notícias
Sejam empregadas domésticas, 'babysitters' ou pintores, firmas como a Albenture fazem parcerias com associações de bairros carenciados para promover a integração social.
Dusso Baldé entra muito envergonhada. De casaco vermelho abotoado até acima, avança pela sala a medo, com a mala sempre muito junto ao corpo. As primeiras palavras saem a custo e só quando vê uma cara conhecida é que o crioulo começa a desenrolar-se mais facilmente. Conta que saiu agora do trabalho. É doméstica numa casa no Campo Pequeno, em Lisboa, e arranjou o trabalho através do Projecto Marias, uma associação criada por empregadas domésticas de bairros como a Cova da Moura. A pessoa que Dusso reconheceu, Regina Cruz, da Albenture Portugal, ajuda a contar a história.
O Projecto Marias é recente e a parceria com a Albenture também. A trabalhar em Portugal desde 2008, a Albenture oferece aos funcionários das empresas suas clientes um pacote de serviços do dia-a-dia de modo a solucionar alguns problemas mais pessoais.
Falamos de empregadas domésticas, babysitters, assessoria legal e fiscal, carpinteiros, pintores, ou até mesmo alguém para trocar lâmpadas e pendurar quadros. "Na maioria das vezes, pedem-nos pessoas para fazer pequenas empreitadas em casa que não necessitam de mão-de- -obra qualificada", conta Regina Cruz, case manager da empresa. "Por isso percebemos que, apesar de podermos recorrer a empresas profissionais quando o trabalho assim o exige, também podíamos dar oportunidades a pessoas que estão de-sempregadas, na reforma, ou pessoas que têm algum tipo de deficiência física mas que estão válidas para fazer outro tipo de serviço e que de outra forma teriam dificuldade em chegar ao mercado de trabalho."
Os pedidos mais frequentes são de empregadas domésticas e numa dessas procuras encontraram o Projecto Marias, que tinha acabado de arrancar. Criada em Abril deste ano, a associação da Cova da Moura descreve-se como "um grupo de mulheres unidas, as Marias, com experiência em serviços domésticos, onde "confiança" é a palavra de ordem". Agora, sempre que são requeridas pessoas para o sector das limpezas, a Albenture recorre à associação.
Por detrás do projecto está o gabinete de inserção profissional, financiado e promovido pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional, pelo Moinho da Juventude e pela iniciativa Bairros Críticos. A maioria das Marias "é de origem africana - guineense ou cabo--verdiana -, algumas com difi- culdades de comunicação e quase todas residentes na Amadora", começa por explicar Filipa Simões, coordenadora responsável do projecto. "O objectivo era criar uma ligação entre as pessoas que apareciam no gabinete de inserção profissional que já tinham trabalho e que tinham referências mas que não sabiam ir à Internet procurar trabalho ou responder aos anúncios dos jornais", conta. Inicialmente, todas as pessoas eram encaminhadas pelo gabinete, mas palavra-passa-palavra e as senhoras já recorrem directamente ao projecto. Actualmente já estão empregadas nove pessoas e outras quatro estão em fase de pré-selecção; reúnem-se todas de duas em duas semanas para falarem sobre como têm corrido os trabalhos. Todas as decisões, seja sobre os preços ou sobre quem aceita que cliente, são tomadas em conjunto, apesar de serem aconselhadas.
Ainda ao abrigo do gabinete de inserção profissional, existe um outro projecto chamado Ama ao Domicílio. Neste caso, as pessoas já têm formação específica (na maioria são técnicas auxiliares de acção educativa). Mais recente, existem apenas duas pessoas empregadas, ambas através de contactos da Albenture.
Domésticas e babysitters são os pedidos que surgem com mais frequência, mas o gabinete da Cova da Moura acaba por enviar também pessoas para outro tipo de trabalhos que chegam à empresa, sejam permanentes ou pontuais, entre os quais um porteiro e alguém que ajudasse uma noite num jantar que ia ser feito em casa de uma cliente.


