28.10.10

Vinda do FMI pode afectar emprego

in Jornal de Notícias

Uma eventual entrada do Fundo Monetário Internacional em Portugal poderá ser sinónimo de mais cortes salariais e subidas de impostos. Apesar do apoio concedido à economia, as suas exigências têm forte impacto no padrão de vida das pessoas.

O impasse gerado na aprovação do Orçamento do Estado coloca mais uma vez a economia portuguesa na mira dos investidores internacionais e relança a possibilidade de Portugal ter de recorrer novamente ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para ter o financiamento necessário que lhe permita sanear as contas.

Ao contrário dos acordos de 1977 e 1983, hoje, uma intervenção do FMI seria gerida em conjunto com a União Europeia que, em Maio, criou o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, para salvar países da Zona Euro com dificuldades de financiamento. Foi a este mecanismo que acorreu a Grécia para ter um empréstimo de 30 mil milhões de euros.

O Fundo Monetário Internacional, criado após a Segunda Guerra Mundial, é uma associação de 185 países, na qual cada um participa com uma quota, apoiando os Estados-membros quando as suas economias entram em situações de desequilíbrio externo.

Este organismo já interveio em vários países, mas sempre que o seu nome paira no ar, soa o alarme. "Essa relutância é porque sempre que o FMI intervém num determinado país, este vê-se forçado a tomar uma série de medidas impopulares e gravosas", refere João Loureiro, docente da Faculdade de Economia do Porto.

Como qualquer credor, o FMI impõe condições que lhe garantam a recuperação do dinheiro que disponibilizou. "Essas medidas podem passar pelo aumento de impostos, a contenção de salários e redução de despesas. Têm um impacto muito forte, piorando as condições de vida das pessoas, podendo até gerar desemprego", sublinha o economista

Para João Loureiro, é preferível que Portugal consiga corrigir, por si mesmo, o problema do défice. "É melhor do que vir alguém de fora e exigir cortes mais drásticos do que os previstos no Orçamento de Estado. A Grécia, por exemplo, teve de eliminar o subsídio de férias e o 13.º mês", expõe.

Por seu lado, Tavares Moreira, ex-governador do Banco de Portugal e, por coincidência, secretário de Estado do Tesouro nos períodos em que finalizaram os dois acordos de Portugal com o FMI, em 1980 e 1985, tem uma opinião favorável deste organismo. "Apesar da forte contestação social, em ambos os casos, a economia portuguesa reagiu bem", refere.

No entanto, para o economista, a situação actual é completamente diferente. "A insuficiência de financiamento e o excesso de endividamento externo do país, pode implicar, se vier o FMI, um duro programa de medidas de natureza estrutural", afirma

Com ou sem FMI, Tavares Moreira pensa que as medidas a tomar pelo país são as mesmas. "É melhor que sejam feitas sem um tutor externo. O FMI não é nenhum papão, mas a sua vinda seria um atestado de incapacidade aos nossos governantes", remata.