11.2.11

Empresas solidárias recebem hoje prémio

Por Patrícia Carvalho, in Jornal Público

Um "banco social", uma casa para voluntários nos Açores e um interface entre instituições e empresas com responsabilidade social foram os vencedores do projecto Social Spin

É evidente, no olhar ansioso e no riso largo de Ana (25 anos), Marina (25) e Inês (24), que estão ansiosas por pôr em marcha a ideia que desenvolveram com Maria João (25) e António (51), e que foi uma das vencedoras do projecto Social Spin, do núcleo regional do Porto da Universidade Católica (UC). Os cinco idealizaram a empresa social Pari Passu, que pretende ser uma intermediária entre as instituições que necessitam de apoio e as empresas que pretendem ajudar. A criação de um "banco social" e um projecto sociocultural na vila açoriana de Rabo de Peixe, que deverá arrancar com a criação de uma casa de voluntários, são os outros dois premiados.

O concurso foi lançado pela UC em Outubro de 2010 e atraiu 23 candidatos. O objectivo era encontrar três ideias para a criação de empresas solidárias, cujo lançamento a Católica se disponibilizava a apoiar, atribuindo cinco mil euros a cada e cedendo-lhes um espaço de trabalho na incubadora de empresas da UC, no Pólo da Asprela. O professor Américo Mendes, um dos mentores do concurso, está satisfeito com os resultados desta primeira edição: "O projecto começou bem e é para manter".

Ana, Marina, Inês e Maria João partilharam o curso de Psicologia. António é economista, pai de Ana, e contribuiu para a elaboração do plano de negócios, garantindo a sustentabilidade da empresa - até "daqui a três anos", diz Ana. As quatro amigas desenvolveram a ideia nascida da experiência com que se depararam durante o estágio curricular. "Percebemos que há empresas que querem ajudar as instituições, mas não sabem como o fazer. E há instituições que gostavam de ter mais apoio, mas não sabem onde o procurar", explica Marina.

Um exemplo: se a sua empresa tem pessoas que gostavam de trabalhar como voluntários, mas não sabe quem poderá precisar desse auxílio, poderá, no futuro, perguntar à Pari Passu qual a associação que mais poderá beneficiar desse apoio. A Pari Passu quer fazer um levantamento de necessidades e indicar o caminho correcto às empresas com responsabilidade social. O trabalho passará também pela avaliação do apoio já prestado por algumas empresas, no sentido de o potenciar.

Cláudia Rodrigues, de 37 anos, e Maria do Sameiro Moura, de 42, são outra equipa vencedora, com a proposta de criação de um "banco social". As duas amigas e colegas de mestrado em Pedagogia Social, na UC, querem criar um espaço de "credibilidade" que saiba direccionar quem precisa de apoio para quem quer ajudar.

Um banco sempre aberto

Cláudia e Maria desfiam áreas em que o banco - que pretende contar com o apoio de colaboradores especializados em diferentes áreas - poderá fazer a diferença. Se ficou desempregado e quer trocar a sua casa grande por uma mais pequena, pode dirigir-se ao banco e dizer "preciso de uma casa nesta área, mas só posso pagar x". Se a sua instituição não tem os meios de que necessita para construir uma cozinha capaz de fornecer refeições a sem-abrigo, o banco pode encontrar quem lhe ceda uma cozinha gratuitamente ou a preços mais baixos.

O Banco Social do Porto já tem página no Facebook e um endereço de e-mail (bancosocialporto@hotmail.com). Apesar de Cláudia e Maria saberem que o ideal será construírem, primeiro, uma rede sólida de colaboradores, dizem-se já prontas para arregaçar as mangas e começar a atender aos primeiros pedidos que cheguem, nesta primeira fase, das freguesias da Foz, Nevogilde, Lordelo do Ouro e Aldoar.

Resta a casa de voluntários que Duarte Melo Ribeiro, de 21 anos, e alguns amigos, querem abrir na vila de Rabo de Peixe, na ilha de S. Miguel, Açores. O jovem estudante de Gestão da UC conheceu Rabo de Peixe como voluntário, há quatro anos, e nunca mais a largou. A casa deverá ser o ponto de partida para a criação de projectos sustentáveis de apoio, assentes na participação local, a uma das localidades mais pobres do país.