SEF desmantelou rede romena que enviava menores para prostituição

Por José Bento Amaro, in Jornal Público

Ao todo foram detidos 12 suspeitos de tráfico de seres humanos. No mês passado, uma das jovens foi estrangulada em Aveiro

Inspectores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) detiveram, na segunda-feira, nas zonas de Aveiro e Faro, 12 homens suspeitos de integrarem uma rede internacional de tráfico de seres humanos. Na sequência da operação Roadbook, vieram a ser identificadas 30 mulheres, todas romenas, que eram obrigadas a prostituir-se. Muitas delas estavam incluídas num circuito que incluía casas de alterne em Espanha, Itália, Inglaterra e Alemanha.

A actividade desta rede estava a ser investigada há mais de um ano, havendo mesmo troca de informações policiais como outros países europeus. O grupo, que também incluía alguns portugueses, está referenciado como sendo extremamente violento. No mês passado, em Aveiro, um homem que já se encontra detido terá estrangulado uma prostituta romena.

"Não se limitavam a retirar-lhes os passaportes. Há conhecimento de inú- meros espancamentos e de maus tratos psicológicos, sobretudo com as mulheres que estavam viciadas no consumo de droga", disse ao PÚBLICO fonte conhecedora do processo.

Buscas e vigilâncias

Após meses de escutas telefónicas e de vigilâncias, em casas privadas e estabelecimentos nocturnos, os inspectores do SEF aperceberam-se que muitas das mulheres desta rede eram menores de idade. "Vinham da Roménia a troco de uma vida melhor, de promessas de muito dinheiro. Acabavam instaladas em casas arrendadas, tanto na zona de Aveiro como no Algarve e eram espancadas de cada vez que se recusavam a ser transferidas para outro local ou quando protestavam por causa do dinheiro que, muitas vezes, não lhes entregavam", explicou a mesma fonte.

Os homens que lideravam a rede estariam há muito familiarizados com os hábitos nacionais. Deslocavam-se em viaturas topo de gama - parte significativa do dinheiro que obtinham provinha da venda das mulheres aos traficantes de outros países - e nem sequer se preocupavam em pagar as portagens ou o combustível com que abasteciam nas áreas de serviço das auto-estradas.

A operação Roadbook, que está a ser coordenada pelo DIAP de Évora, incluiu oito buscas a residências e 11 a viaturas. No decurso das buscas foi apreendida uma arma de fogo, documentos, dinheiro e telemóveis, onde, supostamente, estão os contactos de outros traficantes de seres humanos a operar na Europa.

A venda das mulheres para outros países é, de acordo com o SEF, uma prática comum nas redes de tráfico de seres humanos. Não só rende dinheiro como dificulta eventuais investigações policiais. Por outro lado, impede as vítimas de criarem raízes sociais profundas no mesmo local, as quais, quando acontecem, acabam quase sempre por ter consequências nos meandros da prostituição.

"Há clientes que acabam por se apaixonar e que acabam por reagir mal quando vêem outros homens de volta da mulher de quem gostam", explicou um dos inspectores. Para além de 70 inspectores do SEF, houve necessidade de recorrer a equipas cinotécnicas da GNR e a 31 elementos do Pelotão de Intervenção de Aveiro.

Os 12 detidos, que serão ouvidos no Tribunal de Albufeira (foi em estabelecimentos nocturnos do Algarve que se desencadearam as primeiras investigações), vão ser acusados dos crimes de tráfico de seres humanos com a prostituição como finalidade, lenocínio, furto qualificado, roubo, falsificação de documentos e extorsão. O caso do homicídio de Aveiro, embora tendo como intervenientes duas pessoas que integravam a rede, constitui um processo à parte.