31.8.11

Portugueses levantaram menos dinheiro no primeiro semestre

Por Bárbara Barroso, Dinheiro Vivo

Na altura de ir ao multibanco, as famílias estão mais comedidas. Nos primeiros seis meses do ano, os portugueses levantaram 13,1 milhões de euros, num total de 210 mil levantamentos, o que representa uma quebra de 1,3% face ao período homólogo.

Apesar de a SIBS, entidade gestora da rede multibanco, considerar que não se trata tanto de uma quebra mas mais de um abrandamento, a verdade é que seja por causa da crise, da diminuição do poder de compra ou por uma opção de poupança, os portugueses estão a levantar menos dinheiro.

Este decréscimo contrasta, no entanto, com o número de pagamentos feitos em terminais de pagamento automático (TPA). No mesmo período, foram efectuadas nos terminais de pagamento automático da rede multibanco mais de 175 mil compras, no valor de 6,9 milhões de euros. Um montante que corresponde a um aumento superior a 3% face a igual período do ano passado.

Embora os portugueses prefiram utilizar o cartão para pagar, alguns pequenos comerciantes estão a desistir dos terminais de pagamento automático por causa da crise, avançou o “Jornal de Negócios”. Isto apesar de tanto a SIBS como a Unicre revelarem que o número de terminais automáticos tem vindo a aumentar.

A SIBS explica que houve um crescimento dos equipamentos em 5,6%. "Esta tendência de crescimento verifica-se em todos os escalões de comerciantes", afirmou a SIBS ao Dinheiro Vivo.

Já a Unicre adianta que o número de TPA da Redunicre tem vindo a aumentar e não a diminuir. No entanto, reconhece que se verifica "alguma diminuição do número de terminais nos pequenos estabelecimentos comerciais, por encerramento da actividade e/ou por redução do número de terminais por estabelecimento, não sendo possível determinar as razões concretas dessa diminuição mas apenas registar a tendência", esclareceu a Unicre.

Esta tendência de decréscimo de utilização dos TPA no segmento do pequeno comércio é reconhecida pela Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), que garante que esta tendência não é surpreendente.

Em declarações ao Dinheiro Vivo, na semana passada, o presidente da CCP, João Vieira Lopes, explicou que além dos "estabelecimentos que vêm encerrando a uma média de cem por dia, o valor médio de transacções está a baixar, pelo que o custo das transacções electrónicas se torna incomportável para a maioria dos negócios de margens muito baixas".

Sem querer adiantar quais as taxas cobradas, uma vez que o custo "depende do grau de sofisticação do terminal, do tipo de serviço contratado pelo comerciante [há vários] e até da entidade detentora do terminal de pagamento", a Unicre apenas adiantou que o custo para um serviço e terminal standard o valor é de 11,90€.

A Unicre refere que "no que respeita aos pequenos comerciantes, reconhecendo a sua especificidade, tem feito um esforço importante de redução de custos e melhoria das condições de utilização dos terminais de pagamento. Por exemplo, a receita mínima baixou em 17% e o prazo de pagamento foi alargado de um para três meses, isto desde 1 Janeiro 2010".

Taxas cobradas ao comércio independente podem chegar a 3%
Pagar uma compra com cartão implica um custo para o comerciante que pode chegar aos 3%. Um encargo que a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) diz ser incomportável para muitos pequenos comerciantes, e pode ser também uma das justificações para a desistência da utilização de terminais de pagamento automático por parte do pequeno comércio.

Num artigo publicado no Dinheiro Vivo, o presidente da CCP, João Vieira Lopes, explicou que a confederação tem defendido a eliminação ou forte redução das taxas de serviço cobradas ao sector do comércio, uma vez que as taxas não têm correspondência ao nível dos serviços prestados.

As taxas cobradas aos retalhistas vão ainda contra o direito de concorrência europeu e em Portugal são, em média, o dobro das cobradas em Espanha. As empresas de menor dimensão acabam por ser das mais penalizadas, uma vez que o montante das taxas tem vindo a ser definido em função de diversas variáveis, nomeadamente do número de transacções. Em média, o comércio independente paga taxas entre 3% e 4%, enquanto a grande distribuição é favorecida com taxas entre 0,5% e 1%. Acresce o aspecto de concentração da operação na SIBS, depois da integração do Netpay do BPN, que promovia alguma concorrência.

Para contornar esta situação, alguns estabelecimentos optam por colocar montante mínimos de pagamento. Os avisos "Multibanco só a partir de 5 euros" vão, por isso, multiplicando-se. Uma situação que, segundo explicou fonte da SIBS ao Dinheiro Vivo, pode ser feita uma vez que não há qualquer limite definido por lei.