24.8.11

Há cada vez mais pessoas a pedirem comida

in TVI24

Não há sinais de aumento do número de sem-abrigo, mas mesmo os portugueses com um tecto para viver passam por enormes dificuldades

O número de pessoas que procura ajuda para comer aumentou entre 20 a 30 por cento em Portugal desde 2008, disse à Lusa o vice-presidente do Centro de Apoio aos Sem-Abrigo (CASA).

Apesar de os «tradicionais sem-abrigo, que dormem na rua», não terem aumentado, nota-se «um aumento grande nas famílias e pessoas carenciadas», avançou Nuno Jardim.

«A maior parte são pessoas que estão sozinhas perderam os empregos, têm dificuldades financeiras e vão pedir ajuda para tomar uma refeição», explicou, sublinhando que «o conceito de sem-abrigo, de acordo com o plano nacional, engloba essas situações».

Admitindo ser muito difícil contabilizar os sem-abrigo, Nuno Jardim refere que, pela observação possível, o número de pessoas que pedem refeições «aumentou à volta dos 20 a 30 por cento» desde 2008. A região mais afectada é o Algarve.

O principal motivo que as pessoas alegam para pedir refeições às organizações de solidariedade é o desemprego. Mas «há pessoas que têm emprego e um tecto onde viver, mas o dinheiro que ganham vai todo para a casa ou para o quarto e acabam por não ter dinheiro para mais nada», referiu.

«Depois também há questões de estrutura familiar que se desfaz totalmente e algumas pessoas não conseguem aguentar e vão parar à rua», afirmou Nuno Jardim.

Também o presidente da Cais, Henrique Pinto, admite não conhecer o número exacto de sem-abrigo em Portugal, até porque «muitas vezes a contagem é feita a partir dos albergues e dos quartos pagos pela Segurança Social ou pela Santa Casa da Misericórdia, mas há um grande número de pessoas que vive em casas abandonadas, devolutas e pessoas que vivem de facto na rua».

Henrique Pinto reconhece que tem notado um aumento de carenciados. «A classe média é a que mais tem sofrido. Aqueles que já viviam na rua, agora têm uma sopa a menos, mas já eram pessoas numa situação de pobreza severa. Agora quem perdeu o trabalho, tem filhos, uma casa para pagar, não consegue viver».

Os problemas familiares são também a razão apontada por Isabel Teixeira, técnica da Legião da instituição de solidariedade Boa Vontade, no Porto. «Um dos motivos principais prende-se com problemas familiares, divórcios, morte de progenitores», explicou.

Depois não têm rendimentos fixos nem certos, há muitos que fazem biscates ou arrumam carros, ou beneficiam do rendimento social de inserção ou de reformas.

Ainda sem números relativos a 2011, a Assistência Médica internacional (AMI) contabilizou em Portugal 12.383 pessoas em situação de pobreza no ano 2010, o que representa um aumento de 32 por cento face ao ano anterior. Destas, 1.821 pessoas encontravam-se na situação de sem-abrigo, mais 13 por cento que em 2009.

Maioria são homens, mas mulheres aumentam

Três em cada quatro sem-abrigo em Portugal são homens e têm entre 40 e 59 anos, sendo que nove em cada 10 está desempregado, avançou à Lusa a Assistência Médica Internacional (AMI) com base numa análise feita em 2010.

As estatísticas da AMI indicam que cerca de 7 por cento dos sem-abrigo são analfabetos, um terço só tem habilitações literárias até ao 1º. ciclo (quarta classe) e metade não vai além do 3º. ciclo (até 9º. Ano).

Quase três quartos não têm formação profissional e 90 por cento não exerce qualquer actividade profissional.

A maior parte (mais de 70 por cento) tem nacionalidade portuguesa, seguindo-se os naturais dos Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP), e os dos países de leste.

Segundo a AMI, entre os principais motivos para a situação de pobreza estão o desemprego, os problemas familiares e doenças físicas.

Embora o número de sem-abrigo «tradicionais» atendidos pela organização tenha diminuído no ano passado, a quantidade de mulheres nesta situação aumentou. Entre as mais de 700 pessoas sem-abrigo que pediram assistência, 29 por cento eram mulheres, o que representa mais 4 por cento do que em relação ao ano passado.