26.10.11

Mais de um terço dos solos portugueses não são produtivos

Por Rosa Ramos, in ionline

A conclusão é do Programa de Acção Nacional do Combate à Desertificação. Metade do território está em risco de ficar desertificado

Reuters.

O Presidente da República é o primeiro a incentivar o regresso à agricultura: em Junho, Cavaco Silva convidou mesmo os jovens a regressarem ao cultivo. Mas segundo a proposta de revisão do Programa de Acção Nacional de Combate à Desertificação (PANCD) 2011-2020, entregue recentemente ao governo, voltar à terra pode ser uma missão quase impossível. Nos últimos dez anos a qualidade dos solos portugueses caiu e a aridez aumentou por causa das alterações climáticas.
Segundo o documento a que o i teve acesso, 20,4% dos solos portugueses encontram-se “muito degradados” e 11,8% estão “degradados”. Só 35,7% são considerados produtivos e 20,5% maduros. Feitas as contas, mais de um terço do território nacional apresenta sinais de degradação. O Alentejo, as regiões Centro e Norte, especialmente junto à linha de fronteira com Espanha, são as zonas mais preocupantes. E mais de metade dos solos, 52%, apresentam “grande ou elevada susceptibilidade de desertificação”.
Na origem da degradação dos terrenos, aponta Lúcio do Rosário, responsável pela elaboração da proposta, estão “factores como os incêndios, as alterações climáticas relacionadas com a diminuição das chuvas, a perda de coberto florestal em consequência de doenças como o nemátodo, a utilização indevida e excessiva de solos para o pastoreio e a prática de agricultura de subsistência sem o recurso a boas práticas que salvaguardem os terrenos”. O diagnóstico já foi entregue ao governo, juntamente com uma série de compromissos que terão de ser adoptados até 2020 (ver texto ao lado) para aumentar a produtividade.
Caso não sejam tomadas medidas, alerta o responsável, a degradação dos solos aumentará. “Isto conduzirá a mais despovoamento, maior incapacidade de acção do mundo rural e perda de competitividade agrícola”, avisa. Amândio Torres, presidente da Comissão Nacional de Coordenação do Combate à Desertificação, recordou recentemente, na abertura da discussão pública da proposta de revisão do programa, que 96% do país é rural e “composto por áreas de floresta, espaços silvestres e áreas agrícolas”. Mesmo assim, acrescentou, “a política nacional incide sobretudo nos 4% da área urbana”. De resto, a maioria das áreas identificadas como mais preocupantes pelo PANCD coincide com as que mais habitantes perderam de acordo o último censo. A NUT da serra da Estrela foi a que mais população perdeu – 12,37% numa década –, seguida do Alto Alentejo, que teve um decréscimo de 6,43%.“Quando há perda de produtividade dos solos, há tendência para uma maior desertificação”, confirma Lúcio do Rosário. Para que possa haver um retorno ao mundo rural, acrescenta, “é preciso dignificar as profissões rurais e oferecer condições de acesso à saúde, à educação e à cultura, invertendo a tendência de formar e qualificar pessoas para que abandonem as suas áreas de origem”. Em Portugal já há aldeias, adianta a responsável, “com um número de casas não ocupadas a ultrapassar os 90%”.