29.11.11

A crise leva mais gente para as florestas em busca de cogumelos

in Público on-line

Todos os anos, por esta altura, as florestas da região de Viseu enchem-se de apanhadores de cogumelos, mas este ano a crise está a levar mais gente para as matas em busca da “carne dos pinhais”.

No topo da lista dos mais procurados estão os carnudos míscaros (Tricholoma Equestre) e os suculentos boletos (Boletus Edulis), por serem as espécies mais conhecidas e também as que oferecem mais confiança a quem consome.

Poucas são as mercearias tradicionais na cidade de Viseu que, mal chega o Outono, não têm à venda, quase sempre em sacos de meio quilo, cujo preço varia entre os 10 e os 20 euros, dependendo da fartura ou míngua de quem apanha, os míscaros, claramente os preferidos para fazer com arroz, acompanhados de entrecosto ou coelho.

Helena Fernandes, desde que se lembra, sempre andou pelos pinhais na apanha de míscaros, para fazer em casa, quase sempre com arroz, ou fritos, no caso dos boletos. Mas este ano, como contou à Agência Lusa a escassos quilómetros de Viseu, “há menos para apanhar e mais quem ande à procura da carne dos pinhais”.

“Com isto da crise, com o desemprego, este ano nota-se bem que há mais gente nos pinhais”, sinalizou Helena Fernandes, quando, ao fim de duas horas já tinha, em conjunto com mais três familiares, cerca de cinco quilos de míscaros e alguns boletos, um deles com mais de um quilo, tudo para meter no tacho e na frigideira.

“Regresso às origens”

Com o aumento da procura, as espécies mais apreciadas sofrem uma “enorme pressão”, disse à Lusa José Manuel Costa, especialista em micologia da Escola Superior Agrária de Viseu (ESAV), que entende ser esta altura de maiores dificuldades económicas “propícia a um regresso às origens”, sendo a apanha de cogumelos um indício disso mesmo.

“Há um saber que passa de pais para filhos que é válido e é usado na recolha de cogumelos, mas grande parte das espécies comestíveis não são conhecidas pelas pessoas, o que permite evitar alguma confusão com outras que são tóxicas ou mortais”, explicou.

Para além do risco de apanhar cogumelos perigosos, há ainda o problema, salientou José Manuel Costa, da “enorme pressão exercida sobre algumas espécies, de que a ‘Tricholoma Equestre’ é um bom exemplo, pois corre risco de simplesmente desaparecer devido ao excesso de procura”.

Este excesso de procura, segundo o professor da ESAV, que se dedica à micologia há mais de 25 anos, tem origem na acentuada quebra do trabalho na agricultura nos últimos anos, com a recolha de míscaros a ser uma alternativa económica.

Desde 2009 que existe legislação que regulamenta a apanha de cogumelos, impondo, por exemplo, um limite máximo de cinco quilos por pessoa, mas esta é pouco mais que ineficaz por falta de fiscalização, advertiu José Manuel Costa.

“É claramente expectável que, neste período de crise, aumente a procura de cogumelos e a pressão sobre as espécies, mas não parece que a fiscalização tenha um aumento proporcional a essa crescente procura”, acrescentou o técnico.