24.11.11

“Enquanto não acabar dificilmente seremos um país feliz”

in Destak/Lusa

O economista Gabriel Leite Mota defendeu hoje que enquanto Portugal não acabar com a corrupção “dificilmente vai ser um país feliz”, considerando que para pensar mais em termos de felicidade deve proteger-se “mais o emprego e menos a inflação”.

Gabriel Leite Mota, o primeiro doutorado em Economia da Felicidade em Portugal, falava aos jornalistas no final da sua intervenção na “Smile Conference”, conferência organizada pela “Happiness For Society”, que durante a tarde de hoje decorreu na reitoria da Universidade do Porto.

“A economia da felicidade é um conjunto de estudos que surgiu por volta dos anos 90 que veio tentar juntar indicadores de bem-estar subjetivos com as variáveis tradicionais da economia - crescimento, desemprego, inflação, taxas de juro – numa perspetiva de tentar perceber afinal como é que estamos a conseguir produzir bem-estar”, começou por explicar o economista.

Segundo o especialista, “o que a economia da felicidade pode ajudar é tentar mostrar que há umas variáveis que podem ser mais importantes do que outras na promoção do bem-estar”, deixando um exemplo em concreto.

“Se nós queremos pensar mais em termos de felicidade, então devemos proteger mais o emprego e menos a inflação”, disse, apoiando-se num estudo que refere que quando estas duas variáveis são contrastadas com a felicidade se constata que o desemprego é muito mais penalizador para o bem-estar do que a inflação.

Para Gabriel Leite Mota, em Portugal, um dos principais entraves à felicidade de um ponto de vista macro, é a corrupção.

“Enquanto nós não acabarmos com a corrupção dificilmente vamos ser um país feliz”, defendeu.

O economista afirmou ainda ser necessária “a promoção de empreendedorismo que transforme definitivamente Portugal de um país de indústria arcaica para um país competitivo internacionalmente”.

Questionado sobre a greve geral de quinta-feira, o economista disse privilegiar “uma atitude pró-ativa e não uma atitude apenas de protesto”.

“Note-se que uma greve pode ser entendida como uma atitude pró-ativa de protesto mas eu acho que o faz mais falta a Portugal neste momento são, por exemplo, novos empreendedores, que sejam capazes de levar o país a um novo patamar de competitividade, a um novo tipo de relações laborais para fugirmos de alguns paradigmas”, observou.

Segundo o especialista, Portugal está mal quer em indicadores de PIB quer em termos de satisfação subjetiva, acrescentando que “há estudos em que se vê que Portugal até está abaixo em termos subjetivos daquilo que deveria estar para o PIB que tem”.

“À medida que nós nos tornamos mais rico enquanto país, enquanto nação, cada vez menos os acréscimos sucessivos de riqueza são produtivos em termos de felicidade”, alertou.

Para Gabriel Leite Mota este facto leva a uma questão: “a partir de uma certa altura não devemos estar sempre preocupados em investir mais, em consumir mais, em trabalhar mais mas em produzir melhor, ser mais produtivos, em poluir menos, em diversificar as atividades da vida”.