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29.8.22

Crianças em casas de abrigo nos primeiros seis meses de 2022 quase duplicaram face a todo o ano passado

Ana Dias Cordeiro, in Público online

A escalada da intensidade da violência resultante do confinamento “pode ajudar a explicar o aumento de pessoas ajudadas pela rede”, diz investigadora do Observatório Nacional de Violência e Género. Entre as vítimas, o número de mulheres é desproporcionalmente superior ao dos homens: até Junho de 2022, a rede acolheu 770 mulheres e 14 homens.

“As mulheres e as crianças vítimas de violência doméstica continuam a sair tanto de casa como saíam há 15 anos“

De 383 crianças acolhidas em casas de abrigo para vítimas de violência doméstica nos 12 meses de 2021, o número passou para 667 só no período entre Janeiro e Junho de 2022. Assim, o universo de crianças e jovens que estiveram nessas estruturas (de longa duração e de emergência) nos primeiros seis meses deste ano representa praticamente o dobro do registado em todo o ano passado. Os dados correspondem à soma de todas as pessoas que estiveram acolhidas no período de tempo referido.

Estes são números recentes da CIG –​ Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, sob tutela da ministra adjunta e dos Assuntos Parlamentares e com a responsabilidade de desenvolver no terreno e supervisionar a Rede Nacional de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica​. Mostram ainda que entre Janeiro e Junho deste ano, 1451 pessoas estavam (podendo ainda estar) a viver nas casas de abrigo ou de emergência, quando em todo o ano passado estiveram 1948. A este ritmo, chegar-se-á a mais de 2900 até Dezembro, voltando a atingir-se o pico de 2020 por decisões relativas a casos de violência anteriores à pandemia: de um total de 1968 pessoas acolhidas em 2019 passou-se para 3098 em 2020 (das quais 1317 eram filhos). Entre as pessoas ajudadas pela rede também há homens mas o número de mulheres é desproporcionalmente superior: até Junho de 2022, a rede tinha acolhido 770 mulheres e 14 homens.

A actual evolução indicia uma de duas coisas (ou ambas), segundo a investigadora Dalila Cerejo, professora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e investigadora do Observatório Nacional de Violência e Género (CICS.NOVA). Pode ser um sinal de que a Rede Nacional de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica chega a mais pessoas e “isso é positivo”, diz.

Por outro lado, “a escalada da intensidade da violência detectada no período do primeiro confinamento em 2020 (um mês e meio) pode também ajudar a explicar este número, este aumento de pessoas ajudadas pela rede”.

Maior intensidade e frequência

O observatório realizou um estudo sobre violência doméstica, relativo a esse mês e meio do primeiro confinamento, que veio confirmar o alerta das autoridades, dos técnicos e das instituições de apoio à vítima, continua Dalila Cerejo. “O confinamento criou ou acumulou tensões que, ponto de vista do contexto familiar e da intimidade, tinham um potencial para se manifestar em violência. Nós não sabemos quanta desta violência continuou, porque já vinha de trás. Também nalguns casos – o primeiro confinamento trouxe violência nova no contexto da intimidade. Aí, e olhando para estes dados, podemos estar perante uma violência doméstica que foi potenciada pelo período do primeiro confinamento.”


O panorama actual de aumento das queixas às polícias, dos acolhimentos em casas de abrigo, das medidas de coacção, e dos homicídios na intimidade, ​ como mostram os dados da CIG, pode ser, pelo menos em parte explicado por “essa escalada de intensidade do acto violento, ou da própria violência do acto”, diz Dalila Cerejo.

“O nosso estudo percebeu que durante o primeiro confinamento, a violência sofrida pelas mulheres não só aumentou em frequência como aumentou também em intensidade. As vítimas reportaram que houve uma escalada do número de episódios mas também da intensidade com que a violência era perpetrada”.

Não se pode concluir que há mais violência. Há um crescimento dos indicadores que medem a parte visível dessa violência, como o número queixas. “Não podemos dizer se a violência aumentou ou não, mas uma coisa podemos dizer de forma taxativa: enquanto sociedade não estamos a conseguir baixar este tipo de crime.” E isso explica-se porque “as oscilações de ano para ano mostram que os números por vezes sobem, outras vezes descem, mas não há consistentemente uma descida”.
O confinamento criou ou acumulou tensões que, ponto de vista do contexto familiar e da intimidade, tinham um potencial para se manifestar em violênciaDalila Cerejo - investigadora do Observatório Nacional de Violência e Género do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da NOVA

Expansão da rede nacional

Da Rede Nacional de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica, criada e supervisionada pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG), fazem parte organizações como a União Mulheres Alternativa e Resposta, organização não governamental apoiada financeiramente para dar resposta às vítimas. A rede tem vindo a expandir-se desde os anos 1990 quando foram criadas as primeiras casas de abrigo.

Com a abertura, no início deste mês, de um centro de acolhimento de emergência em Braga e de uma casa de abrigo em Bragança, Portugal, no continente e ilhas, passou a ter 19 centros de acolhimento de emergência e 38 casas abrigo, embora Madeira e Açores ainda não disponham da opção de emergência, diz explica Marta Silva, responsável do Núcleo de Violência Doméstica e Violência de Género da CIG, “Os tempos médios estão dentro do que é estipulado legalmente”, acrescenta.

A grande maioria tem crianças com elas e 63% das mulheres em casas abrigo vieram do acolhimento de emergência. As restantes (27%) voltaram para a relação ou autonomizaram-se junto da família alargada. Da casa abrigo, há um fundo para a entrada das mulheres no mercado de arrendamento muitas vezes na região onde estavam acolhidas e, nesses casos, já não regressam para a região de origem, explica ainda a responsável.
Mais de 200 dias em casas

Desde 2009, com os instrumentos criados e a legislação aprovada, “o tempo previsto está legalmente balizado desde 2009 para as casas de abrigo (seis meses que podem ser renovados por igual período) e desde 2018 para as respostas de acolhimento de emergência (15 dias renováveis por igual período)”, acrescenta. O que se verificou em 2021 foi “um tempo médio de permanência nestas estruturas de 33 dias e resposta de acolhimento de emergência e em casa de abrigo de 210 dias”. Durante esse tempo, as vítimas tentam, com ajuda técnica, procurar uma casa, um novo emprego e colocar os filhos na escola.

“Na emergência, só há prolongamento do acolhimento com parecer técnico”, refere Marta Silva que exemplifica com uma situação recente quando “foi autorizado o prolongamento em emergência até a mulher acabar os ciclos de quimioterapia”. Já na casa de abrigo a decisão técnica é do director, absolutamente autónoma. “Nós não interferimos no prolongamento.”


25.1.19

Violência doméstica. Mais de 11.100 mulheres foram atendidas em 2017 na rede de apoio

in RR

Cerca de 850 foram recolhidas em casas Abrigo, que são a última solução de atuação das autoridades competentes.

A secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade revelou em 2017 mais de 11.100 mulheres foram atendidas na rede nacional de apoio às vítimas de violência doméstica.
"Trata-se de um número muito significativo, para já é o que temos disponível, porque ainda faltam apurar dados relativamente ao ano de 2018. Estas mulheres procuram ajuda nos gabinetes de apoio às vítimas de violência doméstica, nomeadamente nas respostas de atendimento, que são a primeira linha de informação perante estes casos", disse Rosa Monteiro em Moncorvo, distrito de Bragança.
A secretária de Estado adiantou que cerca de 850 mulheres foram recolhidas em casas Abrigo que são a última solução de atuação das autoridades competentes perante casos de violência doméstica.


"Temos estado a fazer um trabalho em que o principal objetivo é cobrir a maior área do território nacional com estas medidas, para que regiões do interior tenham, igualmente, este tipo de respostas e atendimento. Por vezes, as mulheres têm mais dificuldade em recorrer a centros urbanos de maior dimensão, onde estes serviços de apoios às vítimas de violência doméstica foram primeiramente criados", vincou a governante.
A secretaria de Estado deixou claro que é preciso ter uma lógica de parceria que envolva as autarquias, para assim se criarem redes territoriais para haver uma maior articulação entre as partes envolvidas no processo de ajuda.
"Esta é uma área que não se pode trabalhar com mero voluntarismo, porque exige conhecimento dos enquadramentos legais, das respostas existentes e daquilo que é dimensão sociológica e psicológica, deste crime [publico], que é a violência domésticas", frisou Rosa Monteiro.
A governante falava à margem da assinatura de um protocolo entre a Comissão para a Igualdade de Género e o município de Torre de Moncorvo e da inauguração do Núcleo Intermunicipal em Vítimas de Doméstica e de Género, que quinta-feira decorreu naquela vila transmontana.

12.6.15

Polícias vão poder levar vítimas para casas de abrigo de imediato

por Filipa Ambrósio de Sousa, in Diário de Notícias

Nova lei prevê que encontros restaurativos entre vítima e agressor acabem, escolas sejam obrigadas a sigilo em casos de filhos que fujam de pais agressores e reforça papel de polícias.

As polícias vão poder passar a encaminhar - no imediato e dispensando burocracias - as vítimas de violência doméstica para os centros de atendimento ou casas de abrigo, depois de serem agredidas. Assim, em "situações de emergência", e que revelam um elevado risco - como seja o mais grave, de homicídio -, basta que um agente da PSP tenha conhecimento da ocorrência para, na hora, acompanhar a vítima e os filhos menores para uma casa de abrigo ou um centro de atendimento. Até agora, teria de haver um registo prévio feito pela linha nacional de apoio às vítimas de maus-tratos (através do número de atendimento 144). E só a partir daí se podia dar andamento ao processo.

Esta é uma das ideias-chave do plano de prevenção da violência doméstica da autoria da Secretaria de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade, a que o DN teve acesso. O diploma foi já aprovado na generalidade e espera agora a discussão na especialidade na Assembleia da República. "Tem de haver alguma experimentação no terreno para ter a certeza de que isto funciona", explica o psicólogo Daniel Cotrim, assessor técnico da direção da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). "Porque há casos de agressões em que as polícias são chamadas a meio da noite e nem sempre há possibilidade de uma casa de abrigo receber pessoas durante a madrugada", diz a mesma fonte.

O diploma acaba com o chamado "encontro restaurativo" entre vítima e agressor, ou seja, encontros que decorriam entre os dois, com consentimento da vítima, de forma a tentar um entendimento ou acordo. "Uma regra que não fazia sentido nenhum e que, na prática, nem era favorável para a prova", explica Daniel Cotrim. As escolas passam a ser obrigadas à confidencialidade e não revelar qualquer dado de um menor filho de agressor que recebam no seu estabelecimento de ensino, depois de um processo de transferência. "O estabelecimento escolar está obrigado a garantir sigilo relativamente às informações a que possa ter acesso por motivo de processo de transferência", diz o documento.