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30.5.23

Como as características das gerações influenciam o local de trabalho

Natacha Martins, opinião, in Expresso


Não há uma geração melhor ou pior, nem mais fácil ou difícil. Existem, isso sim, gerações com estilos de vida diferentes, e educações e experiências de vida igualmente diferentes. Elas foram-se adaptando e evoluindo em função do seu contexto. Cabe às organizações fazer uma ponte entre elas


Não é novidade que as diferenças entre gerações no mercado de trabalho têm trazido alguns desafios às empresas, principalmente no que toca à gestão de conflitos. Se, por um lado, a diversidade geracional representa valor acrescentado, por outro, pode ser um desafio.

Com o aumento da esperança média de vida e da idade da reforma, temos observado que podem existir, atualmente, 4 gerações diferentes no mercado de trabalho e, embora as datas possam variar ligeiramente consoante a fonte, de forma resumida temos: 
Os Baby Boomers (entre 60 e 80 anos)
Geração X (entre 40 e 60 anos)
Millennials (entre os 25 e os 40) 
Geração Z (entre os 10 e os 25 anos)

CARACTERÍSTICAS DAS GERAÇÕES QUE PODEM INFLUENCIAR O COMPORTAMENTO NO LOCAL DE TRABALHO

Baby Boomers 

Diria que esta é a geração que está atualmente na fase final da sua carreira. Trata-se de uma geração que nasceu após a segunda guerra mundial e, por essa razão, são conhecidos por serem uma geração mais disciplinada e com espírito de sacrifício coletivo. Cresceram num ambiente onde o mercado de trabalho era mais desacelerado e as ofertas mais escassas. Demonstram muita lealdade e compromisso e, normalmente, têm um estilo de trabalho muito estruturado e organizado da mesma forma.

Geração X

Guardam muitas características da geração imediatamente anterior e são pessoas que procuram uma estabilidade financeira – através da construção da sua carreira e preocupação em ascender dentro das organizações – e demonstram elevado respeito pela hierarquia e pelo seu local de trabalho (em muitos casos, acima da vida pessoal). São, por vezes, conhecidos como workaholic e são, também, a geração que oferece maior resistência às mudanças atuais. 

Millennials 

Chamada também de “geração tecnológica”, são as pessoas que acompanharam a explosão da internet, da informática e da globalização. Por essas razões, são pessoas tendencialmente mais flexíveis à mudança, muito questionadoras e que gostam de arriscar e inovar. Passaram por uma crise económica e isso fez com que continuassem, à luz da geração anterior, a valorizar o trabalho e a preocupar-se em aumentar as suas qualificações académicas e profissionais. Com eles começou-se, também, a priorizar a preocupação com o futuro do planeta, sendo mais sensíveis a causas sociais.

Geração Z 

É a geração que começa agora a entrar no mercado de trabalho e, para estas pessoas, não há tempo a perder. São multifacetados e nasceram no mundo digital, estando conectados a tudo e em qualquer momento. São ativistas por natureza e o sentido de justiça vem ainda mais apurado que o da geração anterior, trazendo à discussão novos tópicos sociais como é o caso da preocupação com a saúde mental, diversidade e inclusão. Valorizam o seu tempo pessoal em detrimento da profissão e são, geralmente, mais desconectados das organizações. 

Se, por um lado, as 2 gerações mais antigas tinham a sua vida profissional bem estabelecida e encaixavam nela a vida pessoal, as 2 gerações mais recentes não partilham da mesma opinião e é aqui que reside a maior dificuldade na gestão dos conflitos dentro das organizações. Gerações mais recentes não vão tolerar horas extras diárias e consecutivas e/ou reuniões fora do seu horário laboral estipulado, enquanto as gerações mais antigas veem isso como algo perfeitamente normal. O que acontece é que, de uma forma genérica, os postos de liderança dentro das organizações estão ocupados por pessoas de gerações mais antigas e a força de trabalho de cariz mais operacional é ocupada pelas gerações mais recentes.

Não há uma geração melhor ou pior, nem mais fácil ou difícil. Existem, isso sim, gerações com estilos de vida diferentes, e educações e experiências de vida igualmente diferentes. Elas foram-se adaptando e evoluindo em função do seu contexto. Cabe às organizações fazer uma espécie de ponte e diminuir este gap de forma a trazer os pontos mais positivos de todas as gerações do mercado.

A solução é normalmente mais fácil de dizer do que propriamente de a aplicar no dia-a-dia, no entanto, a minha dica passa por munir as nossas pessoas de 3 competências fundamentais:

1. Empatia 

Por norma são os jovens que ditam as tendências de mercado e acabam por inspirar os mais velhos a agir em conformidade. No entanto, é fundamental que todos/as se consigam compreender mutuamente e entender as razões que estão por trás da forma diferente como nos comportamos. A organização deve evitar a separação das gerações e, inclusive, fomentar equipas diversificadas para que se possam influenciar mutuamente de forma positiva. 

Face a um cenário de trabalho remoto, é importante haver ferramentas que promovam a proximidade entre as pessoas, como é o caso de reuniões online e/ou atividades de teambuilding presenciais. Por exemplo, pode ser interessante experienciar um teambuilding relacionado com este tópico em que dividem a organização por gerações e cada uma tem a missão de se apresentar às outras, mencionando as suas características e maiores desafios em lidar com as restantes.

2. Comunicação

A empresa deve investir em formações para todas as camadas da organização e há muitas empresas especialistas nestes temas. O objetivo é que aprendam os diferentes estilos de comunicação e de que forma se podem adaptar dentro das equipas. Por exemplo, se por um lado, os baby boomers têm tendência a ter um estilo mais cordial e político, a nossa Geração Z será muito mais direta no discurso, dizendo imediatamente o que pensa de forma honesta e sem filtros. Estas informações, tal como muitas outras, como é o caso da interpretação dos diversos tipos de comunicação (verbal, não verbal, escrita ou visual) são passadas neste tipo de workshops profissionais por isso, é importante investir neles.

3. Flexibilidade

Não há soluções milagrosas e acredito que algumas pessoas até se possam identificar com mais do que uma geração e está tudo bem. O mais importante é conseguirmos adaptar-nos, fazendo crescer a discussão saudável em contexto interno, bem como um constante investimento, por parte da empresa, em corresponder às novas tendências do mercado.

Para terminar, julgo que vale a pena recordar as nossas pessoas que o mundo está em constante mudança e que, inevitavelmente, teremos de adaptar-nos. Cabe às equipas de liderança, com o apoio dos seus departamentos de recursos humanos, continuar a motivar todas as gerações e ajudar a mitigar este tipo de conflitos.

17.12.20

Trabalho: OCDE alerta para a falta de diversidade geracional nas empresas

Cátia Mateus, in Expresso

Em 30 anos, só quatro em cada dez trabalhadores terão mais de 50 anos. OCDE lança o alerta: falta de diversidade geracional nas empresas tem custos elevados para a economia

Em 2050, quatro em cada dez trabalhadores nas economias mais avançadas do mundo terão mais de 50 anos. Nos países da Organização para a Coorperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) por cada dois trabalhadores entre os 20 e os 64 anos, haverá um com mais de 65 anos de idade. O desequilíbrio evidente leva a organização a defender a urgência dos vários países promoverem políticas de diversidade e inclusão geracional no mercado de trabalho.

"Promover uma maior diversidade de experiências, gerações e talentos nas empresas traz enormes benefícios para trabalhadores, empresas e para a sociedade como um todo", defende o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría. Num relatório agora divulgado sobre a inclusão geracional no mercado de trabalho, Gurría argumenta que "os empregadores precisam de desenvolver programas e iniciativas que garantam a diversidade geracional no mercado de trabalho e nas empresas, garantam políticas de apoio a esta diversidade e diálogo social".

DIVERSIDADE ALAVANCA A ECONOMIA

No relatório, a OCDE avança que os padrões de vida nos vários países que integram a organização melhorariam significativamente com um aumento da participação de trabalhadores mais velhos no mercado de trabalho. "Prolongar a vida ativa dos profissionais poderia aumentar, em média, em cerca de 19% o PIB per capita nos países da OCDE até 2050, se as taxas de empregabilidade dos trabalhadores mais velhos nos vários países acompanhassem as dos países com melhor desempenho nesta matéria, Islândia e Nova Zelândia", sinaliza a organização.

Contudo, a discriminação em função da idade "continua a ser um problema comum em todo o mundo, restringindo as opções de emprego para os mais velhos e, por vezes, também para os mais jovens", reforça a OCDE no relatório onde também salienta o "custo considerável" que a ausência de diversidade geracional comporta para as empresas.

Os custos são reconhecidos. Mas ainda assim, "as atuais políticas públicas de emprego e reforma, bem como as práticas de gestão empresarial, continuam frequentemente vinculadas à idade dos trabalhadores e não à sua capacidade de trabalho real ou às suas necessidades individuais", esclarece o relatório. Os especialistas da OCDE reforçam que "apesar dos profissionais seniores serem hoje mais saudáveis e qualificados do que nunca, o seu talento permanece muitas vezes subutilizado pelas empresas e pouco valorizado".

ELIMINAR RECRUTAMENTOS TENDENCIOSOS

No relatório, a organização lança vários alertas. "Em vez de se focarem na idade, as políticas laborais devem ser adaptadas às diferentes circunstâncias e contextos individuais", esclarece a OCDE reforçando que isso implica "a eliminação de práticas de recrutamento tendenciosas, orientadas pelo critério da idade, e o incentivo a culturas organizacionais diversas e inclusivas onde todos os trabalhadores se sintam valorizados, independentemente da sua idade".

Num mercado de trabalho global onde o talento é escasso, reter profissionais é a palavra de ordem. A organização sugere que a aposta em regimes de trabalho mais flexíveis e conciliadores com a vida pessoal, a definição de planos estruturados de carreira e progressão e a formação ao longo da vida serão ferramentas fundamentais para reter talento no futuro, independentemente da sua idade, podendo ajudar a esbater as barreiras geracionais que continuam a dividir o mercado de trabalho.

Segundo o relatório, em toda a OCDE só 41% dos trabalhadores participam em formação regular em contexto de trabalho para desenvolvimento de competências. É nos mais jovens que a incidência de formação é maior. "Incentivar as pessoas a manter e desenvolver as suas competências ao longo da vida geraria ganhos de produtividade significativos e ajudaria os profissionais mais seniores a prolongar a sua vida ativa", argumenta a OCDE que sugere que governos e empresas revisitem as suas políticas de formação e qualificação em contexto laboral.