Mostrar mensagens com a etiqueta Maria João Rodrigues. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Maria João Rodrigues. Mostrar todas as mensagens

27.4.21

Cimeira Social: Crise covid é "razão acrescida" para compromisso social

Por Notícias ao Minuto

A crise provocada pela pandemia é "uma razão acrescida" para um compromisso político forte na Cimeira Social do Porto, porque aumenta o risco de desigualdade que as transições verde e digital já implicam, defende Maria João Rodrigues.

Relatora do Parlamento Europeu e negociadora com o Conselho e a Comissão do Pilar Europeu dos Direitos Sociais, a antiga ministra do Emprego e atual presidente da Fundação Europeia de Estudos Progressivos afirma, em entrevista à Lusa, que "espera bem" que a Cimeira do Porto, em 07 e 08 de maio, resulte num compromisso histórico dos Estados-membros com o plano de ação.

"Porque se a transição verde e a transição digital já por si podem aumentar as desigualdades sociais e entre países, porque nem todos os países têm os mesmos meios financeiros para levar a cabo essas transições, com a crise covid-19 esse risco de desigualdade ainda é maior", sustenta.

"Há regiões, há setores, há empregos mais expostos à pandemia e, portanto, é uma razão acrescida para nós termos o Pilar Social", frisa.

Após a proclamação na Cimeira Social de Gotemburgo (2017), "a intenção era realmente passar o Pilar Social à prática, tornando-o o instrumento chave para pôr em marcha outros dois grandes compromissos da União Europeia": "conduzir a transição verde e ecológica e a transição digital reduzindo as desigualdades sociais".

"Se não fizermos nada, naturalmente a transição ecológica, transformando tantos setores, onde vamos perder empregos, mas temos de criar outros, tem de ser acompanhada de uma política social forte. E a transição digital ainda mais, porque ela pode criar muitos empregos, mas vai suprimir outros, e temos de ter uma política social e educativa para preparar as pessoas para isso", explica.


Mas, em face da pandemia de covid-19 e da crise económica e social que ela provocou, a frente social precisa ainda mais de "medidas excecionais", ao nível do "salto histórico" dado na frente económica, com "um orçamento comunitário reforçado e um fundo de recuperação pela primeira vez financiado por dívida conjunta europeia".

"Puxámos por isso num momento dramático que foi a crise da zona euro e, apesar do momento dramático, essa decisão não foi tomada. Foi preciso chegar um momento ainda mais dramático, que atingiu todos os países, como a crise covid, para finalmente essa medida ser tomada", sublinha.

Neste novo contexto, defende, impõe-se "uma reinterpretação do Pilar Social".

O Pilar, explica, foi "um salto importante na história da política social europeia" ao criar "uma base de direitos sociais para todos os cidadãos europeus".

A "grande novidade" é que a política social passa a basear-se no conceito de cidadania europeia: "sejam crianças, jovens, adultos, mulheres ou homens, onde quer que vivam, onde quer que trabalhem, desde que seja cidadão europeu, tem direito a esta base comum de direitos sociais".

A segunda novidade, prossegue, "é que para que esses direitos se tornem reais é preciso financiá-los": "o Pilar Social foi introduzido também para reequilibrar a forma como a Europa funciona e dizer: se temos direitos, temos de ter formas de os financiar".

"Mas, com o aparecimento da crise covid, todos nós estamos a perceber que a nossa vida já não vai ser como era antes [...]. E isso implica reorganizar quase tudo na forma como as empresas funcionam, como as nossas casas funcionam, como os nossos transportes diários funcionam", frisa.

Maria João Rodrigues dá o exemplo do teletrabalho "em grande escala", apontando-lhe vantagens, como "permitir uma melhor conciliação vida profissional/vida pessoal, reduzir o tráfego das cidades, reduzir até a poluição", mas também desvantagens, que obrigam a que as condições de trabalho tenham de ser garantidas, "em termos de horários de trabalho, de equipamento em casa, etc.".

Esta crise mostrou também até que ponto são "vitais" certas profissões --- da saúde, dos serviços comerciais fundamentais, dos transportes, dos cuidados à pessoa ---, profissões que urge revalorizar, defende.

"Segundo o Pilar Europeu, qualquer que seja o emprego que uma pessoa tenha, qualquer que seja o setor, pequena ou média empresa, qualquer que seja a região, qualquer pessoa tem de ter contrato de trabalho, claramente identificado, com direitos básicos de condições físicas de trabalho, de remuneração, de acesso à formação, de acesso à participação e [...] tem de ter uma ligação clara à proteção social, para os vários riscos de desemprego, de doença, de envelhecimento", afirmou.

Isto aplica-se muito à situação atual, em que persistem "empregos precários em que essas condições estão longe de estar garantidas", mas também "uma nova realidade criada pela economia digital, que é o trabalho para grandes plataformas em que, muitas vezes, não há qualquer tipo de direito".

"Uma das medidas do plano de ação é exatamente definir o enquadramento europeu para as plataformas [...]. Quando na realidade são entidades empregadoras, não são apenas plataformas tecnológicas, têm de comportar-se como entidades empregadoras, têm de estipular um contrato de trabalho com tudo o que é próprio de um contrato de trabalho", explica.

"A aplicação do pilar social vai permitir que estes direitos básicos sejam de facto passados à prática", sublinha.

28.2.19

Maria João Rodrigues: "Tenho um trabalho de longo curso sobre a Europa"

in TSF

A eurodeputada Maria João Rodrigues desta o relatório sobre os direitos sociais como uma das marcas do seu mandato.

A falar em Bruxelas, em entrevista à TSF, a eurodeputada socialista, considera que "no último ano e meio" foi possível a "avançar de forma muito prática", em matéria de direitos sociais, desde que os líderes das instituições europeias proclamaram, em novembro de 2017, em Gotemburgo, o chamado "pilar social". Desde então, considera que tem sido registadas "consequências positivas, para a população europeia e para a população portuguesa".

A eurodeputada afirma que nesta fazer já está a ser possível "transformar a essa proclamação, em leis europeias", nomeadamente uma que "vai melhorar as condições de trabalho para qualquer tipo de emprego" e dará a "garantia que as pessoas têm direito a contrato de trabalho com condições decentes".

A proposta foi votada há duas semanas e cabe agora aos Estados-Membros fazerem a respetiva transposição para as leis nacionais. Mas a deputada nota já "uma mudança", relativamente a 2014, dizendo que "quando aqui chegámos não se podia falar de direitos sociais" e, nesse sentido regista "uma transformação".

Maria João Rodrigues afirma que no Parlamento gerou-se a "compreensão de que hoje estamos a fazer face a novos tipos de emprego no mercado de trabalho" mais precisamente em relação às "plataformas online", para as quais "há muitos jovens a trabalhar, que não têm nem contrato, nem acesso à proteção social".
Brexit
Nesta entrevista à TSF, a deputada considera ainda que a respeito do brexit "estamos a chegar ao momento da verdade", pois acredita que "um brexit sem acordo é perigosíssimo para o Reino Unido - e também para a Europa -, porque as consequências seriam catastróficas, sobre a economia britânicas e sobre a população britânica".

"Uma parte da crescente da população foi levada para uma situação bloqueada e cada vez mais a população britânica percebe isso. É muito significativo que a população jovem, no Reino Unido, em maioria quer continuar na União Europeia", afirmou a deputada, admitindo que um novo referendo venha de facto a realizar-se.

Maria João Rodrigues afirma a sua "profunda convicção" de que "o PS vai conseguir ter uma maioria expressiva". A eurodeputada escusou-se, porém, a concretizar por quantos deputados consideraria "expressiva" a margem de vitória.

Questionada sobre se ainda estaria disponível para um novo mandato no Parlamento Europeu, Maria João Rodrigues afirma-se "disponível porque tenho um trabalho de longo curso sobre a Europa".
"E, este mandato foi novamente uma oportunidade de transformar isto em algo prático", afirma Maria João Rodrigues, esclarecido que é por essa razão de gostaria de "continuar".
Várias fontes garantem, porém, que a vice-presidente da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, não será incluída nas listas. A decisão definitiva será conhecida amanhã, na reunião da Comissão Política do Partido Socialista.

Investigação
Maria João Rodrigues responde ainda às questões sobre o processo que decorre no Parlamento Europeu, durante o qual foi investigada por alegada perseguição laboral, dizendo que espera que "fique esclarecido muito em breve", e que poderá conseguir que seja resolvido "a bem e com verdadeiro diálogo"

8.11.18

Novo quadro financeiro europeu: as negociações de Portugal vão além dos fundos estruturais

Maria João Rodrigues, in EcoOnline

Portugal enfrenta neste momento desafios que vão para além do que pode ser resolvido pelos fundos estruturais. Uma análise centrada nos fundos de coesão não chega.

As negociações do novo Quadro Financeiro Plurianual (QFP) 2021-2027 têm particular relevância pois estão a ter lugar num momento em que se aproximam eleições Europeias. Para além disso, estamos num contexto em que a UE enfrenta desafios internos, bem como desafios nas suas relações externas: persistentes desigualdades regionais, divergência económica, pressões migratórias, conflitos militares e mudanças geopolíticas, riscos para a democracia e estado de direito, aumento do protecionismo como resposta a efeitos da globalização, uma rápida digitalização com impacto nas novas formas de trabalho, alterações climáticas e escassez de recursos, alterações demográficas, a necessidade de estabilizar e reformar a zona euro e, ainda, o Brexit.

A negociação deste novo QFP é um jogo de xadrez extremamente complicado e Portugal para maximizar os resultados no final destas negociações, deve negociar em várias frentes.

Os Fundos Estruturais representam a maior fatia do orçamento comunitário e têm tido para Portugal um papel extremamente relevante como motor de desenvolvimento económico, promotor de investimento e apoio a políticas de âmbito social. Portugal deve ser a favor da modernização destas políticas, incluindo o foco em políticas que promovam a competitividade e a coesão. Os fundos estruturais devem continuar a apoiar investimentos estratégicos no nosso país, o fundo social deve ser desenhado de modo a poder apoiar os desafios sociais e laborais que enfrentamos e os fundos destinados à agricultura e recursos marítimos devem ser baseados em políticas de desenvolvimento sustentáveis.

Apesar do peso dos fundos estruturais como motor de investimento no nosso País, Portugal ainda não recuperou o seu nível de investimento para níveis pré-crise. Programas europeus de apoio ao investimento como InvestEU ganham uma relevância particular. Este programa é baseado no atual Plano Juncker e Portugal, neste momento, é o 4º país com maior volume de investimento em relação ao PIB. Desde a sua criação em 2015, Portugal já conseguiu mobilizar investimentos adicionais acima de sete mil milhões de euros. Uma utilização eficiente e inteligente baseada na experiência adquirida até à data deste programa comunitário por parte de Portugal pode potenciar, no mesmo período de tempo, a mobilização de investimento em montantes crescentes e próximos dos que são destinados a Portugal em fundos estruturais.
Outra frente de negociação prende-se com os Programas comunitários geridos pela Comissão Europeia tais como o Horizonte Europa, Europa Digital ou o Fundo Europeu de Globalização. Estes programas devem ter em consideração critérios ajustados aos desafios que enfrentamos, de modo a potenciar o acesso de Portugal; por exemplo, assegurar que o Fundo Europeu de Globalização abrange em termos de elegibilidade os impactos devidos à revolução digital é um exemplo no qual Portugal poderia tirar partido deste Programa.

Entre as novidades desta proposta de orçamento contam-se finalmente os instrumentos orçamentais para a Zona Euro. A proposta da Comissão tem particular relevância pois iria dotar a Zona Euro de uma capacidade orçamental própria. A Zona Euro é a única zona monetária no mundo que não está dotada dessa capacidade. A criação destes instrumentos permitiria a Portugal por um lado vir a ser apoiado financeiramente na implementação de certas reformas e investimentos conexos. Para além disso, a criação de uma capacidade orçamental na Zona Euro permitiria apoiar os países a estabilizar os seus níveis de investimento em caso de uma nova crise financeira e económica. Estes instrumentos são cruciais para tornar a zona euro e Portugal uma economia mais resistente a choques e sustentáveis a prazo. Mas vamos ver se há condições políticas para lançar estes instrumentos inovadores. Há um grupo de Estados-Membros, dito Hanseático que ainda resiste e a Alemanha hesita.

Em qualquer caso, devemos pôr de lado esta visão míope de nos focarmos somente nos fundos estruturais quando analisamos os resultados destas negociações. Portugal enfrenta neste momento desafios que vão para além do que pode ser resolvido pelos fundos estruturais. Uma análise centrada nos fundos de coesão não chega. Portugal tem muito mais a ganhar quando se tem em consideração a variedade de programas comunitários ao nosso dispor neste novo QFP.