Samuel Silva, in Público on-line
Filhos de profissionais mais qualificados têm melhores resultados, revela análise da OCDE aos resultados do PISA 2012, publicada nesta terça-feira. Ao contrário de outros países, Portugal não consegue esbater diferenças.
Os estudantes portugueses têm conseguido melhorar o seu desempenho nos testes PISA, um exercício repetido a cada três em três anos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Mas são sobretudo os filhos das famílias com empregos mais qualificados e por isso com mais recursos económicos que conseguem melhores resultados. A conclusão é de um novo estudo daquele organismo internacional, que compara os resultados dos alunos com as profissões dos pais. Portugal está longe de conseguir mitigar os efeitos das diferenças familiares nos percursos escolares, ao contrário do que fazem outros países.
O estudo publicado na terça-feira usa uma classificação que agrupa empregos e tarefas semelhantes. A OCDE considera os gestores como os profissionais mais classificados, seguidos da categoria “profissionais” – que agrupa trabalhadores qualificados em áreas como a saúde, educação, ciência e gestão. Os filhos de trabalhadores destes dois grupos lideram os resultados na generalidade dos países e Portugal não é excepção. Independentemente da disciplina em análise – leitura, matemática ou ciência, os três testes feitos pelo PISA – os filhos dos “profissionais” têm sempre os melhores resultados, seguidos dos filhos dos gestores. Os estudantes cujos pais têm profissões técnicas qualificadas aparecem logo a seguir.
No extremo oposto, aparecem os resultados dos alunos cujos pais têm profissões “elementares” na classificação usada pela OCDE, bem como os trabalhadores manuais e os profissionais dos sectores agrícola, florestal e das pescas. Quando se compara os resultados de Portugal com países que têm melhores resultados que os seus, como a Polónia ou a Alemanha, percebe-se que se mantém alguma regularidade, mantendo as mesmas posições relativas entre grupos profissionais e a dispersão dos resultados.
No entanto, quando a análise se centra em países com piores resultados do que Portugal no último PISA, conseguem perceber-se resultados mais semelhantes entre os estudantes. É o que acontece com a Suécia, onde há notas mais próximas entre os filhos dos profissionais das várias áreas, Neste país e na Eslovénia, os trabalhadores do sector agrícola, florestal e das pescas, conseguem estar na média dos resultados dos seus países, ao passo que em Portugal ocupam as últimas posições.
Este estudo aponta o facto de existiram países onde essas diferenças conseguem ser ainda mais mitigadas. A Finlândia e o Japão são apontados pela OCDE como exemplos de sistemas escolares que conseguem fornecer educação de qualidade para todos os alunos, independentemente daquilo que os seus pais fazem para ganhar a vida. A organização internacional relaciona, de resto, os níveis de desempenho elevados alcançados por estes dois países com o facto de serem garantidas a mesma educação e estímulo a todas as crianças.
A OCDE sublinha no relatório que apesar de haver “uma forte relação” entre as ocupações dos pais e desempenho dos alunos no PISA, o facto de os alunos de em alguns sistemas de ensino, conseguirem superar os resultados de filhos de profissionais, independentemente do que seus pais fazem para ganhar a vida, “mostra que é possível que crianças de operários, se lhes forneceram as mesmas oportunidades de educação de alta qualidade que filhos de advogados e médicos desfrutam, tenham bons resultados".
Em Portugal, parece persistir um “vector de desigualdade e de assimetria muito forte”, sublinha a investigadora do Instituto de Educação da Universidade do Minho Fátima Araújo. As escolas têm dificuldades em trabalhar com crianças que provêm de famílias com níveis escolares muito baixos ou situações sociais e económicas desfavorecidas, explica. Isto acentua as consequências de uma “fractura geracional” evidente para as cerca de 1,5 milhões de pessoas que não têm mais do que o primeiro ciclo.
Fátima Araújo recorda também uma regularidade já realçada por outros investigadores portugueses que mostram que os resultados nacionais neste tipo de estudos estariam em linha com a média da OCDE e, em alguns casos, mesmo acima, desde que fosse mitigado o efeito das reprovações, que têm um peso muito forte no sistema educativo nacional. Os “chumbos” têm “uma incidência muito elevada em estudantes de famílias que têm níveis escolares muito baixos”.
A OCDE baseia-se nos resultados do PISA 2012, que tinham sido divulgado em Dezembro, e que têm por base testes realizado por cerca de 510 mil estudantes de 15 anos, dos quais 5700 em Portugal. Nessa ocasião foi perguntado aos alunos qual a ocupação profissional dos seus pais e o estudo agora apresentado cruza as duas variáveis, tentando perceber a sua relação.
Apesar de continuarem abaixo da média das OCDE nos três testes realizados os resultados dos alunos portugueses foram sublinhados por aquele organismo internacional, uma vez que fora os que registaram uma melhoria de performance mais evidente na última década. A Matemática continua a ser a disciplina em que os estudantes nacionais têm piores resultados –obtiveram 487 pontos, sendo a média geral de 494. Na leitura, os portugueses tiveram 488 (a média geral foi de 496) e a ciências mais um ponto (a média é também a mais alta, 501).
Os resultados desta nova análise agora tornados públicos podem ser consultados através de um dispositivo interactivo – disponível emhttp://beta.icm.edu.pl/PISAoccupations2012/ - onde é possível conhecer o diagnóstico de cada um dos países que participou nos PISA 2012 e estabelecer comparações entre países, tendo em conta os resultados dos estudantes participantes nos testes de leitura, matemática e ciência e as ocupações dos seus pais.
Essa ferramenta permite, por exemplo, perceber a existência de diferenças geográficas nos resultados. Olhando para os resultados em matemática, por exemplo, os filhos de pessoas que trabalham em limpezas em Xangai ou Singapura conseguem ter resultados superiores aos dos norte-americanos que são filhos de “profissionais” – uma categoria que agrupa trabalhadores qualificados em áreas como a saúde, educação, ciência e gestão. O PISA revela ainda que os Estados Unidos e o Reino Unido, países onde estes profissionais estão entre os mais bem pagos do mundo, não têm tão bons resultados a matemática como os trabalhadores destas áreas profissionais noutros países do mundo.
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19.2.14
27.5.13
“É importante que os professores sejam responsabilizados pelo desempenho dos alunos”
Bárbara Wong, in Público on-line
Se um professor for “eficiente” pode ter turmas maiores e deve ser pago com base nos resultados dos alunos, diz o norte-americano.
Eric Hanushek começou por fazer carreira na Força Aérea dos Estados Unidos, onde tirou a licenciatura. Mais tarde, fez o doutoramento em Economia no Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT, na sigla inglesa). Actualmente é investigador no Instituto Hoover, na Universidade de Stanford e dedica-se a temas da Economia da Educação. Esteve recentemente em Espanha, a convite do ministro da Educação espanhol; e está, esta segunda-feira, em Lisboa, para participar na conferência “Educação, Ciência, Competitividade”, organizada pelo Ministério da Educação e Ciência. A sua intervenção terá como tema “Políticas Educativas para a Qualidade e para o Crescimento Económico”.
O PÚBLICO entrevistou o professor por correio electrónico. Económico nas respostas, Eric Hanushek considera importante, nos resultados académicos dos alunos, o impacto dos “professores de qualidade” e defende que os docentes sejam avaliados pelo desempenho dos estudantes. À investigação que conclui que o aproveitamento escolar melhoraria com turmas mais pequenas, Hanushek discorda e responde que esses resultados são residuais e que as turmas podem ser maiores. Para isso são precisos “professores eficientes”. Algumas perguntas do PÚBLICO sobre formação dos professores e a importância dos pais no aproveitamento escolar ficaram por responder. “Penso que sabe quais são as minhas respostas”, justifica.
PÚBLICO: Considera que em Portugal estamos a gastar demasiado em educação?
Eric A. Hanushek: A questão não é se estão a gastar demasiado, mas se os resultados não deveriam ser melhores. Outros países da OCDE que gastam o mesmo que Portugal têm melhores resultados. Portanto, é muito importante para o país melhorar o seu desempenho escolar.
Quanto dinheiro deve um país gastar em educação?
Essa é uma questão política. Convém, no entanto, que o país se esforce para que os seus gastos sejam eficazes.
Mas como é que se pode tornar o sistema eficiente?
A investigação internacional dá algumas pistas: a chave para melhorar o sistema está na melhoria da qualidade dos professores. Para o fazer é necessário dar incentivos às escolas e aos professores. Apesar de ser politicamente difícil é preciso considerar a possibilidade de pagar aos professores pelo seu desempenho. Além disso, é importante que os professores sejam responsabilizados pelo desempenho dos seus alunos. Mais: se os pais tiverem liberdade de escolha da escola, esta vai incentivar as escolas a melhorar a qualidade dos seus professores e a sua eficiência.
É apologista de salas de aula com mais alunos. Em Portugal, o número aumentou para 28. Qual é o número ideal?
A investigação ainda não revelou o número óptimo de alunos por sala. Reduzir o número de alunos por turma é uma das ideias mais caras e que tem revelado ter muito pouco impacto no sucesso dos alunos. O que a investigação sugere é que ter menos alunos por turma, no pré-escolar e no 1.º ciclo, pode ajudar – um pouco – a conquistar melhores resultados. Mas há maneiras melhores de gastar dinheiro em educação do que na redução do número de alunos por turma. A qualidade do professor é muito, muito mais importante que o número de alunos por turma.
Sabemos que a Coreia do Sul ou o Japão, onde as salas de aula podem ter mais de 30 alunos, têm melhores resultados nos testes da OCDE que os EUA ou Portugal. Quando, na sua investigação aponta os casos asiáticos não está a esquecer-se de que por detrás desses números estão factores culturais diferentes?
Um bom professor sabe como gerir uma sala e levar os seus estudantes, mesmo quando eles não estão naturalmente preparados para tal.
Na sua investigação fala de “professores eficientes” e de “professores de qualidade”. São sinónimos?
Para mim, um “professor eficiente” é a mesma coisa que um “professor de enorme qualidade”.
Como é que os define?
A investigação falha na descrição das características ou do comportamento de um “professor eficiente”. Sabemos que há profissionais que, por sistema, são melhores em sala de aula do que outros, mas é difícil descrevê-los. Contudo, é possível identificar quem se está a sair bem e quem não está.
Nas escolas públicas portuguesas, é o ministério que distribui os professores pelas escolas. Portanto, ainda que um director soubesse identificar os “professores eficientes” de nada lhe serviria.
Os directores devem estar envolvidos na administração e gestão do seu pessoal. Deveria ser-lhes permitido escolher quem deve entrar e sair da sua escola. Contudo, isto só faz sentido se o director também for avaliado com base no desempenho dos alunos da sua escola. Os directores devem estar apostados na melhoria dos resultados dos estudantes, mais do que em qualquer outro assunto.
Em que é que um professor “ineficiente” pode prejudicar um aluno?
Um estudante que tem um mau professor pode ficar para trás na sua carreira académica, para sempre. Se não aprender o que está previsto num determinado ano de escolaridade, vai para o ano seguinte com um atraso, o que o pode atrasar cada vez mais.
Então, todos os estudantes são bons se tiverem um “professor eficiente”?
A investigação não é conclusiva em relação a essa questão. Mas parece que um “professor de qualidade” é bom independentemente de ensinar alunos de topo ou de base. O contrário também é verdade: um mau professor prejudica os bons e os maus alunos.
Um professor “ineficiente” pode tornar-se “eficiente”?
A investigação sugere que é difícil melhorar o desempenho dos maus professores. É um investimento que raramente se paga a si mesmo.
Se um professor for “eficiente” pode ter turmas maiores e deve ser pago com base nos resultados dos alunos, diz o norte-americano.
Eric Hanushek começou por fazer carreira na Força Aérea dos Estados Unidos, onde tirou a licenciatura. Mais tarde, fez o doutoramento em Economia no Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT, na sigla inglesa). Actualmente é investigador no Instituto Hoover, na Universidade de Stanford e dedica-se a temas da Economia da Educação. Esteve recentemente em Espanha, a convite do ministro da Educação espanhol; e está, esta segunda-feira, em Lisboa, para participar na conferência “Educação, Ciência, Competitividade”, organizada pelo Ministério da Educação e Ciência. A sua intervenção terá como tema “Políticas Educativas para a Qualidade e para o Crescimento Económico”.
O PÚBLICO entrevistou o professor por correio electrónico. Económico nas respostas, Eric Hanushek considera importante, nos resultados académicos dos alunos, o impacto dos “professores de qualidade” e defende que os docentes sejam avaliados pelo desempenho dos estudantes. À investigação que conclui que o aproveitamento escolar melhoraria com turmas mais pequenas, Hanushek discorda e responde que esses resultados são residuais e que as turmas podem ser maiores. Para isso são precisos “professores eficientes”. Algumas perguntas do PÚBLICO sobre formação dos professores e a importância dos pais no aproveitamento escolar ficaram por responder. “Penso que sabe quais são as minhas respostas”, justifica.
PÚBLICO: Considera que em Portugal estamos a gastar demasiado em educação?
Eric A. Hanushek: A questão não é se estão a gastar demasiado, mas se os resultados não deveriam ser melhores. Outros países da OCDE que gastam o mesmo que Portugal têm melhores resultados. Portanto, é muito importante para o país melhorar o seu desempenho escolar.
Quanto dinheiro deve um país gastar em educação?
Essa é uma questão política. Convém, no entanto, que o país se esforce para que os seus gastos sejam eficazes.
Mas como é que se pode tornar o sistema eficiente?
A investigação internacional dá algumas pistas: a chave para melhorar o sistema está na melhoria da qualidade dos professores. Para o fazer é necessário dar incentivos às escolas e aos professores. Apesar de ser politicamente difícil é preciso considerar a possibilidade de pagar aos professores pelo seu desempenho. Além disso, é importante que os professores sejam responsabilizados pelo desempenho dos seus alunos. Mais: se os pais tiverem liberdade de escolha da escola, esta vai incentivar as escolas a melhorar a qualidade dos seus professores e a sua eficiência.
É apologista de salas de aula com mais alunos. Em Portugal, o número aumentou para 28. Qual é o número ideal?
A investigação ainda não revelou o número óptimo de alunos por sala. Reduzir o número de alunos por turma é uma das ideias mais caras e que tem revelado ter muito pouco impacto no sucesso dos alunos. O que a investigação sugere é que ter menos alunos por turma, no pré-escolar e no 1.º ciclo, pode ajudar – um pouco – a conquistar melhores resultados. Mas há maneiras melhores de gastar dinheiro em educação do que na redução do número de alunos por turma. A qualidade do professor é muito, muito mais importante que o número de alunos por turma.
Sabemos que a Coreia do Sul ou o Japão, onde as salas de aula podem ter mais de 30 alunos, têm melhores resultados nos testes da OCDE que os EUA ou Portugal. Quando, na sua investigação aponta os casos asiáticos não está a esquecer-se de que por detrás desses números estão factores culturais diferentes?
Um bom professor sabe como gerir uma sala e levar os seus estudantes, mesmo quando eles não estão naturalmente preparados para tal.
Na sua investigação fala de “professores eficientes” e de “professores de qualidade”. São sinónimos?
Para mim, um “professor eficiente” é a mesma coisa que um “professor de enorme qualidade”.
Como é que os define?
A investigação falha na descrição das características ou do comportamento de um “professor eficiente”. Sabemos que há profissionais que, por sistema, são melhores em sala de aula do que outros, mas é difícil descrevê-los. Contudo, é possível identificar quem se está a sair bem e quem não está.
Nas escolas públicas portuguesas, é o ministério que distribui os professores pelas escolas. Portanto, ainda que um director soubesse identificar os “professores eficientes” de nada lhe serviria.
Os directores devem estar envolvidos na administração e gestão do seu pessoal. Deveria ser-lhes permitido escolher quem deve entrar e sair da sua escola. Contudo, isto só faz sentido se o director também for avaliado com base no desempenho dos alunos da sua escola. Os directores devem estar apostados na melhoria dos resultados dos estudantes, mais do que em qualquer outro assunto.
Em que é que um professor “ineficiente” pode prejudicar um aluno?
Um estudante que tem um mau professor pode ficar para trás na sua carreira académica, para sempre. Se não aprender o que está previsto num determinado ano de escolaridade, vai para o ano seguinte com um atraso, o que o pode atrasar cada vez mais.
Então, todos os estudantes são bons se tiverem um “professor eficiente”?
A investigação não é conclusiva em relação a essa questão. Mas parece que um “professor de qualidade” é bom independentemente de ensinar alunos de topo ou de base. O contrário também é verdade: um mau professor prejudica os bons e os maus alunos.
Um professor “ineficiente” pode tornar-se “eficiente”?
A investigação sugere que é difícil melhorar o desempenho dos maus professores. É um investimento que raramente se paga a si mesmo.
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