Por Miguel Branco, in iOnline
Mais de um ano depois, o colectivo de nove fotógrafos cumpre o prometido: edita em livro os retratos de uma etapa portuguesa
Quando, em Julho, o Projecto Troika invadiu oEdifício AXA – a meias com o Cartier-Bresson – para uma exposição onde apenas se descobria uma parte do trabalho desenvolvido pelos nove fotógrafos, o desfecho final ainda não era conhecido. Traduzindo, não era certo que o seu objectivo – que passava por obter 15 mil euros através de crowdfunding para editar um livro e fazer um filme – fosse cumprido a tempo. É que o prazo-limite ia até 30 de Setembro e, no Verão passado, faltavam cumprir os últimos 20 por cento, facto que iria a consumar-se a 30 dias do fecho do crowdfunding, a 1 de Setembro. Esse foi o momento de esfregar as mãos e avançar. Agora – hoje no Porto, às 21h30 no Edifício AXA; amanhã às 17h30 na Fábrica Braço de Prata – é hora de (re)apresentar o Projecto Troika em livro. No formato que sempre quis ser.
Adriano Miranda, António Pedrosa, Bruno Simões Castanheira, José Carlos Carvalho, Lara Jacinto, Paulo Pimenta, Pedro Neves, Rodrigo Cabrita e Vasco Célio são os responsáveis por esta análise a um país sob o efeito da troika, cada um com a sua maneira de o fazer. Tudo coisas para ver ao longo das 214 páginas de “Projecto Troika”, que conta com o subtítulo “Um documento visual para memória futura”.
Começa com um prefácio do sociólogo Boaventura de Sousa Santos, que se prolonga com Paulo Pimenta e “O Sorriso”; Rodrigo Cabrita e “Morrer de Indiferença”; Lara Jacinto e “>350.300”; Adriano Miranda e “Os Despidos”; António Pedrosa e “Limbo”; Bruno Simões Castanheira e “A Ditadura do Empobrecimento”; José Carlos Carvalho e “Rostos Reais da Fome”; Vasco Célio e “Inexistência do Lugar”; Pedro Neves e o filme “Acima das nossas possibilidades”.
No Porto, a apresentação conta com a presença de Sérgio Aires e Rita Castro Neves, enquanto em Lisboa a sessão vai ter como convidados Ana Cardoso, José Soudo e Renato Guedes. Neste último caso vai ser exposta uma fotografia de cada autor. Ambos os momentos vão decorrer com palestra, precedida do visionamento do filme de Pedro Neves – o único que não escolhe a fotografia para se manifestar – “Acima das nossas possibilidades”.
O Projecto Troika atingiu o seu objectivo, mas não é por isso que não pode contribuir através do site do conjunto. Toda a migalha ajuda.
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12.12.14
20.1.14
Projecto Troika: resgatar o presente em imagens
Por Carolina Pelicano Falcão, in iOnline
Em Lisboa, centenas de pessoas carenciadas, aguardam a entrega de alimentos e roupas durante uma desta de Natal
Oito fotógrafos e um realizador pretendem documentário efeito da presença da troika em Portugal. Um projecto que vai resultar num livro. O país a ver-se ao espelho
O desconforto não foi a palavra de ordem mas o sentimento que motivou este trabalho de documentar, através de fotografias e de um filme, o Portugal sob a sombra da troika, que há três anos aterrou por estes lados. Se a ideia começou com Adriano Miranda, a ele outros oito se juntaram, como nos explica Lara Jacinto, pertencente a esta trupe documentarista. "O Adriano sentia-se na obrigação de arrancar com algum projecto que documentasse toda a situação que se está a viver em Portugal. Mais tarde foi uma obrigação em que todos nós nos revimos, por todos nos sentirmos desconfortáveis e querermos pôr isso no nosso trabalho."
Lara Jacinto e Paulo Pimenta seguiram Adriano e pouco a pouco o grupo foi-se compondo, na perspectiva de que alargar o espectro a outros fotógrafos melhoraria o trabalho. E assim foi. Finalmente, o plantel completa-se com António Pedrosa, Bruno Simões Castanheira, José Carlos Carvalho, Pedro Neves, Rodrigo Cabrita e Vasco Célio. Entre oito fotógrafos e um realizador, vemos um mesmo tema abordado a partir de diferentes ângulos. Como? "Cada um escolheu aquilo que mais o impressionava e inquietava", explica Lara, que, por seu turno, decidiu centrar-se na questão da emigração.
"2013 foi dos anos com maior emigração das últimas décadas, tendo ultrapassado a década de 60. Ter na família e à minha volta pessoas que estão a deixar o país é uma coisa que me incomoda muito e me faz pensar como será Portugal sem estas pessoas, o que se estará a perder com a ida destas pessoas da minha geração." Lara optou por manter a faixa etária dos seus retratados nos 30 anos, a idade em que "é suposto já estarmos a trabalhar, estáveis, com vidas construídas, e nada disso é o que se passa".
Entre os restantes fotógrafos encontramos abordagens à situação dos idosos que estão em situações de maior vulnerabilidade (Rodrigo Cabrita, coordenador de fotografia do jornal i), a tristeza generalizada (José Carlos Carvalho), o sentimento de nudez face àquilo que o Estado social deixou de poder assegurar (Adriano Miranda), a vida de um grupo de jovens que, não tendo trabalho, fazem apenas pequenos biscates (António Pedrosa), de que se enumeram apenas alguns.
A partir desta semana o Projecto Troika entra em crowdfounding (angariação de fundos online), e no site oficial (projectotroika.com) estima-se que em finais de Outubro, inícios de Novembro, o projecto seja editado em livro, isto, claro, se a angariação tiver conseguido alcançar o patamar de 15 mil euros. É importante ressalvar que os valores angariados servirão apenas para pagar os custo de edição do livro, já que nenhum dos fotógrafos receberá pelo seu trabalho.
Até Setembro, data em que estimam ter a recolha concluída, o trabalho fotográfico segue. Lara acrescenta ainda: "Não queremos que o grupo imponha uma ideia, não queremos ser antitroika, o que queremos é reflectir sobre o que se passa à nossa volta, apenas mostrar os seus efeitos."
Em Lisboa, centenas de pessoas carenciadas, aguardam a entrega de alimentos e roupas durante uma desta de Natal
Oito fotógrafos e um realizador pretendem documentário efeito da presença da troika em Portugal. Um projecto que vai resultar num livro. O país a ver-se ao espelho
O desconforto não foi a palavra de ordem mas o sentimento que motivou este trabalho de documentar, através de fotografias e de um filme, o Portugal sob a sombra da troika, que há três anos aterrou por estes lados. Se a ideia começou com Adriano Miranda, a ele outros oito se juntaram, como nos explica Lara Jacinto, pertencente a esta trupe documentarista. "O Adriano sentia-se na obrigação de arrancar com algum projecto que documentasse toda a situação que se está a viver em Portugal. Mais tarde foi uma obrigação em que todos nós nos revimos, por todos nos sentirmos desconfortáveis e querermos pôr isso no nosso trabalho."
Lara Jacinto e Paulo Pimenta seguiram Adriano e pouco a pouco o grupo foi-se compondo, na perspectiva de que alargar o espectro a outros fotógrafos melhoraria o trabalho. E assim foi. Finalmente, o plantel completa-se com António Pedrosa, Bruno Simões Castanheira, José Carlos Carvalho, Pedro Neves, Rodrigo Cabrita e Vasco Célio. Entre oito fotógrafos e um realizador, vemos um mesmo tema abordado a partir de diferentes ângulos. Como? "Cada um escolheu aquilo que mais o impressionava e inquietava", explica Lara, que, por seu turno, decidiu centrar-se na questão da emigração.
"2013 foi dos anos com maior emigração das últimas décadas, tendo ultrapassado a década de 60. Ter na família e à minha volta pessoas que estão a deixar o país é uma coisa que me incomoda muito e me faz pensar como será Portugal sem estas pessoas, o que se estará a perder com a ida destas pessoas da minha geração." Lara optou por manter a faixa etária dos seus retratados nos 30 anos, a idade em que "é suposto já estarmos a trabalhar, estáveis, com vidas construídas, e nada disso é o que se passa".
Entre os restantes fotógrafos encontramos abordagens à situação dos idosos que estão em situações de maior vulnerabilidade (Rodrigo Cabrita, coordenador de fotografia do jornal i), a tristeza generalizada (José Carlos Carvalho), o sentimento de nudez face àquilo que o Estado social deixou de poder assegurar (Adriano Miranda), a vida de um grupo de jovens que, não tendo trabalho, fazem apenas pequenos biscates (António Pedrosa), de que se enumeram apenas alguns.
A partir desta semana o Projecto Troika entra em crowdfounding (angariação de fundos online), e no site oficial (projectotroika.com) estima-se que em finais de Outubro, inícios de Novembro, o projecto seja editado em livro, isto, claro, se a angariação tiver conseguido alcançar o patamar de 15 mil euros. É importante ressalvar que os valores angariados servirão apenas para pagar os custo de edição do livro, já que nenhum dos fotógrafos receberá pelo seu trabalho.
Até Setembro, data em que estimam ter a recolha concluída, o trabalho fotográfico segue. Lara acrescenta ainda: "Não queremos que o grupo imponha uma ideia, não queremos ser antitroika, o que queremos é reflectir sobre o que se passa à nossa volta, apenas mostrar os seus efeitos."
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