Por Carolina Pelicano Falcão, in iOnline
Em Lisboa, centenas de pessoas carenciadas, aguardam a entrega de alimentos e roupas durante uma desta de Natal
Oito fotógrafos e um realizador pretendem documentário efeito da presença da troika em Portugal. Um projecto que vai resultar num livro. O país a ver-se ao espelho
O desconforto não foi a palavra de ordem mas o sentimento que motivou este trabalho de documentar, através de fotografias e de um filme, o Portugal sob a sombra da troika, que há três anos aterrou por estes lados. Se a ideia começou com Adriano Miranda, a ele outros oito se juntaram, como nos explica Lara Jacinto, pertencente a esta trupe documentarista. "O Adriano sentia-se na obrigação de arrancar com algum projecto que documentasse toda a situação que se está a viver em Portugal. Mais tarde foi uma obrigação em que todos nós nos revimos, por todos nos sentirmos desconfortáveis e querermos pôr isso no nosso trabalho."
Lara Jacinto e Paulo Pimenta seguiram Adriano e pouco a pouco o grupo foi-se compondo, na perspectiva de que alargar o espectro a outros fotógrafos melhoraria o trabalho. E assim foi. Finalmente, o plantel completa-se com António Pedrosa, Bruno Simões Castanheira, José Carlos Carvalho, Pedro Neves, Rodrigo Cabrita e Vasco Célio. Entre oito fotógrafos e um realizador, vemos um mesmo tema abordado a partir de diferentes ângulos. Como? "Cada um escolheu aquilo que mais o impressionava e inquietava", explica Lara, que, por seu turno, decidiu centrar-se na questão da emigração.
"2013 foi dos anos com maior emigração das últimas décadas, tendo ultrapassado a década de 60. Ter na família e à minha volta pessoas que estão a deixar o país é uma coisa que me incomoda muito e me faz pensar como será Portugal sem estas pessoas, o que se estará a perder com a ida destas pessoas da minha geração." Lara optou por manter a faixa etária dos seus retratados nos 30 anos, a idade em que "é suposto já estarmos a trabalhar, estáveis, com vidas construídas, e nada disso é o que se passa".
Entre os restantes fotógrafos encontramos abordagens à situação dos idosos que estão em situações de maior vulnerabilidade (Rodrigo Cabrita, coordenador de fotografia do jornal i), a tristeza generalizada (José Carlos Carvalho), o sentimento de nudez face àquilo que o Estado social deixou de poder assegurar (Adriano Miranda), a vida de um grupo de jovens que, não tendo trabalho, fazem apenas pequenos biscates (António Pedrosa), de que se enumeram apenas alguns.
A partir desta semana o Projecto Troika entra em crowdfounding (angariação de fundos online), e no site oficial (projectotroika.com) estima-se que em finais de Outubro, inícios de Novembro, o projecto seja editado em livro, isto, claro, se a angariação tiver conseguido alcançar o patamar de 15 mil euros. É importante ressalvar que os valores angariados servirão apenas para pagar os custo de edição do livro, já que nenhum dos fotógrafos receberá pelo seu trabalho.
Até Setembro, data em que estimam ter a recolha concluída, o trabalho fotográfico segue. Lara acrescenta ainda: "Não queremos que o grupo imponha uma ideia, não queremos ser antitroika, o que queremos é reflectir sobre o que se passa à nossa volta, apenas mostrar os seus efeitos."