por Sandra Araújo, in Parlamento Global
O "Relatório de Ultra Riqueza no Mundo 2013" confirma que em Portugal não só cresceu o número de multimilionários como aumentou o valor global das suas fortunas. Apesar da crise que se vive no país, o número de multimilionários em Portugal - com fortunas superiores a 25 milhões de euros - aumentou 10,8% no último ano. Por outro lado, segundo este mesmo estudo o crescimento de multimilionários em Portugal foi maior do que a média europeia quer em número, quer em valor . Este facto vem comprovar a teoria de que a austeridade quando nasce não é para todos.
Em contrapartida, mais pessoas empobrecem e a intensidade da pobreza é cada vez maior, a “dita” classe média está a ser esmagada com os sucessivos aumentos de impostos, a diminuição dos salários reais, a perda do emprego, os enormes cortes nos serviços públicos e nos apoios sociais. A precariedade, o número de pessoas que sofre de imprevisibilidade e insegurança aumentou exponencialmente. Os que estão empregados sabem que têm os seus empregos em risco. Os que perderam o emprego sabem que as suas perspectivas de empregabilidade são mínimas, sobretudo para quem tem mais de 45 anos de idade. Muitos dos que perderam o emprego, também perderam as suas casas e foram viver com amigos ou familiares. Outros tornaram-se sem abrigo. Os jovens, os que encontram trabalho aceitam qualquer coisa, e muitos dos que não conseguem trabalho emigram. É particularmente preocupante que praticamente um quarto das crianças em Portugal vivam na pobreza. Os pensionistas que tinham as suas reformas como garantidas deixaram de as ter e mesmo assim são para muitas famílias o seu porto de abrigo.
Algo está mal. É urgente uma mudança. É preciso ter consciência que a desigualdade e o aumento das desigualdades não surgiu do nada. Foi criada. As políticas tem sido centrais na criação das desigualdades sociais. A desigualdade é consequência do falhanço do sistema político e económico.
É urgente reconstruir o sistema de modo a funcionar e sobretudo funcionar para a maioria dos cidadãos e não apenas para uma pequena elite. É preciso reformular as políticas de forma a que garantam uma economia mais equitativa e mais eficiente. As próximas eleições europeias em Maio deste ano poderão ser decisivas para esta mudança. Seria bom que como cidadãos levássemos a sério a importância destas eleições para o futuro do projecto politico europeu. Seria bom contrariar a tradicional alineação dos cidadãos em relação a estas como outras eleições, seria bom que nos preocupássemos em ir votar e que acreditássemos que é possível uma mudança do sistema político e económico.