30.1.14

Bancos em Portugal continuam a estrangular economia sem crédito

Por Filipe Paiva Cardoso, in iOnline

Banca continua sem justificar os milhares de milhões emprestados pelos contribuintes que deviam servir para dar mais crédito à economia

"Um entrave significativo à recuperação": é este o papel que a banca da zona euro tem desempenhado nos últimos meses, na visão da RBC Capital Markets que, numa nota aos investidores, comentou desta forma os valores ontem divulgados pelo Banco Central Europeu sobre os níveis de concessão de crédito na zona euro. Em Portugal, os valores são ainda piores que a média da moeda única.

Segundo o BCE, os empréstimos concedidos pelos bancos que actuam em Portugal às empresas caíram 4,8% em Dezembro, depois de já terem recuado 5,5% nos três meses anteriores. A quebra em Portugal compara com a redução de 3% nos empréstimos às empresas na zona euro, verificando-se as quebras mais expressivas na Eslovénia (17%), Espanha (11%) e Malta (9%). "A concessão de crédito manteve-se muito fraca em Dezembro, sugerindo que o sector bancário continua a ser um entrave significativo à recuperação da zona euro", reflectiu então a RBC Capital Markets.

Segundo as agências internacionais, os economistas e analistas de mercados esperavam um melhor comportamento ao nível da concessão de créditos, mais consistente com a perspectiva de recuperação da actividade económica e de menor aperto no crédito ao sector privado.

Além das empresas, também os créditos a particulares continuam em terreno negativo: os créditos à habitação em Portugal caíram 3,6%, mais do que os 3,5% de Novembro - valor que compara com a média da zona euro, onde os empréstimos para compra de casa até subiram 0,7%, mas ligeiramente abaixo dos 0,9% do mês anterior.

Mais de um bilião de euros Os bancos europeus continuam, assim, a estrangular a economia, apesar de terem ido buscar 634 mil milhões aos bolsos dos contribuintes em "auxílios estatais" - quase quatro vezes o PIB português -, aos quais se juntaram mais 492 mil milhões em garantias, nos últimos anos.

Estas verbas, é de salientar, foram entregues à banca para esta não só corrigir todos os excessos que cometeu nos anos anteriores à crise, como também para reactivar o fluxo de crédito à economia e, assim, reimpulsioná-la. Porém, o dinheiro entrou nos balanços e depois não saiu de volta para a economia, sendo antes investido, por exemplo, em dívida pública de países aflitos, com altas taxas de retorno, também pagas pelos contribuintes.