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O estudo «Vivência da pobreza - O que sentem os pobres?» foi realizado ao longo de 2012/2013 e envolveu os beneficiários dos Centros Porta Amiga da AMI
Seis em cada dez pessoas que vivem em situação de pobreza não se reveem nessa realidade, projetando-se numa classe social superior, revelam as conclusões de um estudo da Assistência Medica Internacional (AMI) divulgado esta quarta-feira.
O estudo «Vivência da pobreza ¿ O que sentem os pobres?» foi realizado ao longo de 2012/2013 e envolveu os beneficiários dos Centros Porta Amiga da AMI em todo país (31.842), tendo sido validadas 50 entrevistas (26 mulheres e 24 homens).
A classe social média-baixa representa 8% do universo do estudo e a classe social média 2%, adianta o estudo, que teve como objetivos percecionar a imagem vivenciada da pobreza no universo da população apoiada pela AMI e compreender a imagem que as pessoas em situação de pobreza têm da sua própria realidade.
Apesar de 88% dos entrevistados terem um rendimento «per capita» inferior a 421 euros, valor considerado como limiar da pobreza, apenas 48% se autoavaliam na situação de pobreza.
«Segundo os indicadores oficiais de pobreza, as pessoas foram classificadas, na sua maioria, na classe social pobre (40%) e muito pobre (48%)», mas quando lhe perguntamos em que classe se veem, a maior parte das pessoas classifica-se na classe social pobre ou média baixa, adiantou a diretora do Departamento de Ação Social da AMI e orientadora do estudo.
Ana Martins explicou, no final da apresentação do estudo, que «há uma décalage entre a maneira como a sociedade classifica estas pessoas e a maneira como elas se veem».
«Esta questão tem a ver essencialmente com os sentimentos e a maneira como os pobres se projetam. Ou seja, é o sentir deles, o estereótipo somos nós, sociedade, que o fazemos», acrescentou.
Contudo, quando são questionados sobre a existência ou não de pobreza em Portugal, 64% dos inquiridos referem que mais de metade da população está em situação de pobreza.
«A análise comparativa entre a classe social estipulada pelo estudo e a auto classificação permite detetar uma resistência por parte de todos os grupos socioeconómicos em assumir a sua situação de pobreza, principalmente na classe social muito pobre», refere o estudo.
A postura «otimista» entre a classe social real e a percecionada pelos próprios é ainda maior se for projetado para um futuro a cinco anos.
Segundo a análise, 60% dos inquiridos projetam-se na classe social média baixa e média, com apenas 36% a acreditarem vir a estar ou continuar nas classes sociais pobre e muito pobre.
Analisando cada classe social, o estudo constatou que a «muito pobre» corresponde a 48% da amostra, mas na sua auto-classificação diminui para 14%, subindo para 16% do total da amostra na projeção a cinco anos.
Já a classe social pobre (40% da amostra) passou na auto-classificação para 34% e para 20% na projeção a cinco anos.
A classe social média baixa (8% da amostra) subiu na auto-classificação para 38% e na projeção a cinco anos para 36% e a classe social média (2% da amostra) aumentou para 10% na sua perceção e para 24% dentro de cinco anos.
«Quase todas as pessoas tendem a fugir da classe muito pobre e auto projetarem-se em classes sociais mais elevadas porque para eles muito pobres são as pessoas que não têm casa, dormem na rua e são pessoas que não têm comida», explicou Ana Martins.
O facto de ainda terem casa e irem buscar comida, não ao supermercado, mas à AMI ou a outras instituições, tira-as, na sua opinião, da classe social muito pobre, com a qual não se identificam, adiantou a orientadora do estudo.
Ana Martins disse ainda que 55% dos pobres entrevistados «pensam de uma forma otimista e que a vida deles vai mudar».