in iOnline
Em quatro concelhos do interior - Arganil, Góis, Oliveira do Hospital e Pampilhosa da Serra - a Cáritas de Coimbra concede ajuda social a centenas de idosos, muitos deles na modalidade de apoio domiciliário
O presidente da Cáritas Diocesana de Coimbra, Luís Costa, defende "uma diferenciação positiva" das instituições que realizam trabalho de apoio social nos concelhos do interior, incluindo no acesso aos fundos comunitários.
Em quatro concelhos do interior - Arganil, Góis, Oliveira do Hospital e Pampilhosa da Serra - a Cáritas de Coimbra concede ajuda social a centenas de idosos, muitos deles na modalidade de apoio domiciliário, que inclui alimentação, tratamento de roupa, higiene pessoal e habitacional, entre outros serviços.
Há um mês, a instituição inaugurou na Cabreira, concelho de Góis, a Unidade Residencial Sagrada Família, em que foram investidos dois milhões de euros.
Este equipamento foi custeado pela Cáritas e pela população, sem comparticipação do Estado ou da União Europeia.
"O Pinhal Interior precisa de uma diferenciação positiva", afirma à agência Lusa o padre Luís Costa.
Nos territórios de baixa densidade demográfica, marcados pelo envelhecimento da população, desemprego e desertificação, "as distâncias não se medem em quilómetros, medem-se em tempo".
Para construir a Unidade Residencial, com capacidade para 50 idosos, a Cáritas candidatou o projeto, "a seu tempo e por duas vezes", aos fundos comunitários, mas em vão.
"Todos os índices eram de elevada pontuação, menos o da relação população-respostas sociais", refere Luís Costa.
Para o responsável da Cáritas, esta é "uma região muito específica", onde as pessoas "estão muitas vezes desamparadas", em comparação com o litoral e os grandes centros urbanos.
"Uma incongruência", num território que "precisa de um apoio" que proporcione condições que travem a desertificação das últimas décadas.
O interior do país "acaba por ser desconfigurado naquilo que é a resposta aos anseios" das pessoas que se mantêm nas vilas e aldeias, segundo Luís Costa, criticando "os critérios de admissão" aos programas de financiamento europeu.
Dos dois milhões de euros aplicados na Unidade Sagrada Família, onde a Cáritas centraliza o apoio a várias povoações serranas de Góis, 500 mil foram disponibilizados pela Comissão Pró-Lar, recorrendo a receitas dos baldios do Cadafaz.
"Todo o povo reconhece muito a obra. Sabem que terão sempre um apoio para acabarem os dias com alguma qualidade de vida, o que anteriormente não era possível", salienta à Lusa Artur Neves, da Comissão Pró-Lar.
O novo lar já acolhe 23 utentes, esperando esgotar a lotação nos próximos meses.
Emprega 27 pessoas, incluindo as que trabalham no apoio domiciliário.
Aos 84 anos, Américo Domingues, residente em Adela, afirma que as funcionárias da Cáritas lhe levam as refeições e fazem a limpeza da casa "com todo o amor e carinho".
Devido a doença, a mulher, Maria da Luz, está em permanência na Unidade Residencial.
"Elas tratam-me muito bem e eu trato-as como minha família", conta, emocionado, o antigo cobrador da Carris de Ferro, de Lisboa.
Maria de Lurdes Ferreira, solteira, de 86 anos, é das poucas pessoas que ainda moram no Cadafaz, onde diariamente é visitada pelas trabalhadoras da Cáritas.
"Antigamente, tinha aqui muitos vizinhos, agora tudo desapareceu. Não sei o que vai ser de mim", receia.
Lurdes Ferreira trabalhou sempre na agricultura. Vive numa casa das sobrinhas residentes na Alemanha, filhas de um irmão já falecido.
"Há aqui muita casa aos ratos", lamenta.
A idosa, "sempre sozinha", fez o funeral aos pais e a uma tia. Está prevista a sua entrada no lar da Cabreira ainda este ano.
"Daqui a pouco, no Cadafaz, é só a igreja e o cemitério", enfatiza, citando o que vai ouvindo ao padre da freguesia.