in Jornal de Notícias
Noventa por cento dos portugueses é incapaz de avaliar joias, que em momentos de crise são vendidas ao desbarato, frequentemente a quem também desconhece o valor de ouro ou pedras preciosas, alerta o presidente do Instituto Gemológico Português.
A ignorância, explicou José Baptista à Agência Lusa, começa nos donos de joias e segue depois para avaliadores, que, "não fazendo por mal" mas porque "entraram no negócio sem um mínimo de conhecimentos e de competência", enganam os clientes e se enganam a eles.
"Com o aumento do preço do ouro tomei consciência de que elevada percentagem de peças, algumas património nacional, foram derretidas". Porque a maior parte das pessoas que compra "está ali para aproveitar o ouro e pagar ao preço de o derreter, de sucata", justifica o responsável.
O Instituto promove no sábado em Lisboa uma sessão gratuita de avaliação de joias chamada "Quanto vale o anel da sua avó?" e organiza na sede cursos de formação na área da ourivesaria.
Destas sessões muitas pessoas saem "de boca aberta", umas por pensar que tinham uma fortuna e não têm nada e outras a pensar que tinham "uma ninharia" e têm afinal peças de "50 mil euros".
Mas o ideal, diz José Baptista, seria acabar com casos de peças valendo "quatro ou cinco mil euros" que são vendidas a "300 ou 400".
É que, diz José Baptista, se quem analisa uma joia e desconhece estar perante um rubi, a sua proveniência ou época, pode "honestamente" subavaliá-la.
"Eu sei porque conheço alguns (ourives) e não é por mal. Mas dói-me muito saber do património que se perde, algum que devia estar nos museus", diz o responsável, que aconselha a quem quer vender que procure "gente competente", "porque a há", e escute várias opiniões.
Mas também há os "indivíduos que se metem no negócio por ganância", os "mercados paralelos", a venda porta a porta, os burlões, as técnicas apuradas de falsificação, que tudo conjugado com a crise descamba em "situações dramáticas".
E a ignorância acima de tudo. José Baptista fez a experiência colocando em avaliação uma pulseira de 1930 de ouro e platina, com rubis e diamantes. Estava avaliada em quatro mil euros e ofereceram no máximo 300.
E burlas ao contrário também as há. Ou tentativas. "Há quem compre e depois volte cá mas já com uma joia falsa", diz o José Baptista que também é professor avaliador da Casa da Moeda e ourives.
Portugal não tem pedras preciosas ,mas tem grandes profissionais, lapidadores por exemplo que estão "desempregados ou noutros países". E tem ourivesarias sem joias bonitas e de qualidade. E tem uma indústria falida quando "não há outra que possa dar tanto dinheiro". E tem uma crise que leva as pessoas a desfazerem-se de joias a preços irrisórios, compradas por outras pessoas que são capazes de "derreter" por ignorância património nacional, diz.
Mas tem lupas, tem polariscópios e microscópios, tem aparelhos de fluorescência e refratómetros. E não tem por isso motivos para que alguém desconheça ainda quanto vale o brinco da mãe, a pulseira do pai, o broche da tia ou o anel da avó.