Por Pedro Araújo, in Dinheiro Vivo
O aumento acentuado do desemprego estrutural, que ficou nos 11,5% em 2013, é um dos problemas mais graves da economia portuguesa. O governador do Banco de Portugal lançou ontem o alerta.
No âmbito de uma conferência em Lisboa, organizada pela Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), Carlos Costa fez ontem uma apresentação intitulada "O desafio da absorção do desemprego estrutural em Portugal".
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O governador referiu que as estimativas do Banco de Portugal apontam para uma taxa de desemprego estrutural acima dos 11,5% em 2013. Na prática, isso significa que uma massa de aproximadamente 620 mil portugueses corre o risco de não voltar a trabalhar por falta das qualificações que os empregadores procuram. Ou seja, não são desempregados produzidos apenas pela conjuntura de crise temporária.
A dar razão a Carlos Costa, surgiu ontem um estudo que refere o facto de 30% dos empregadores portugueses não contratarem porque não encontrarem trabalhadores com as competências de que precisam. O inquérito é da responsabilidade da consultora McKinsey. Apenas 46% dos empregadores portugueses consideram que há trabalhadores formados em programas de educação relevante para o mercado em número suficiente, o que quer dizer que "os jovens [portugueses] estão a estudar as coisas erradas", de acordo com o estudo "Educação e Emprego: Levar a juventude da Europa para o Trabalho".
O governador do Banco de Portugal diz mesmo que "durante mais de uma década criámos postos de trabalho artificiais e não sustentáveis no setor dos bens não transacionáveis". Carlos Costa apresentou também um conjunto de profissões que têm mais ou menos hipóteses de desaparecer a prazo. Estima-se que 47% das profissões atuais têm uma probabilidade elevada de perda de emprego durante a próxima década, sendo substituídas pela tecnologia. Por exemplo, os operadores de telemarketing e os contabilistas surgem logo à cabeça. Os médicos, assistentes sociais ou cientistas são típicas profissões que não parecem ameaçadas pela evolução tecnológica, uma vez que exigem competências de inteligência social e criativa.
A dificuldade reside no facto de a absorção do desemprego estrutural passar pelo processo de reestruturação da economia e transferência de recursos do setor não transacionável para o transacionável (exportável).
Segundo Carlos Costa, a inovação é um dos fatores que potencia a mudança da economia, mas há restrições importantes, nomeadamente o elevado nível de endividamento das empresas, a fraca qualidade de gestão e a ausência de capacidade das empresas para acompanhar os mercados e a inovação tecnológica.
Desemprego estrutural
O desemprego estrutural resulta da modernização do processo produtivo. Alguns desempregados não conseguem adaptar-se e voltar ao mercado de trabalho.
Desemprego conjuntural
O desemprego conjuntural tem normalmente mais peso e resulta de uma instabilidade temporária, como uma crise económica ou financeira como a atual.