Por Ana Suspiro, in iOnline
A retoma chega este ano, mas é frágil. A Europa do Sul continua a ser a zona preocupante. A deflação é o maior perigo para a zona euro
Este será o ano da retoma na Europa do euro. O Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu em alta as previsões de crescimento para quase todos os principais players da economia mundial. Mas o prognóstico é mais reservado para alguns países, precisamente aqueles que sofreram o processo de ajustamento orçamental, um clube onde está Portugal.
A zona euro, que "está a atravessar a esquina da recessão para a retoma", deverá voltar a crescer este ano 1%, impulsionada pela economia alemã, cuja riqueza deverá subir 1,6% em 2014. O crescimento deverá acelerar para 1,4% em 2015, animado pela recuperação da França e Itália. Apesar de melhorar também as perspectivas para as economias mais atingidas pela crise do euro - o FMI só divulga nesta actualização as previsões para Espanha e Itália - a Europa do Sul continua a ser classificada pelo economista chefe do Fundo, Olivier Blanchard, como a região "mais preocupante" no mapa mundial.
O regresso ao crescimento nestas economias, é frágil devido ao esforço de ajustamento orçamental. A recuperação é alimentada sobretudo pela força das exportações para os clientes europeus. É um bom sinal, sublinha o homem do FMI que, no entanto, deixa a mensagem. Para se atingir um crescimento sustentado será necessário romper o círculo que se instalou com uma procura interna fraca que, por sua vez, enfraquece a actividade, as empresas e os bancos.
Procura só anima em 2015 "O crescimento sustentado vai implicar a saída desse círculo e terá de se basear tanto na procura externa como interna", defende Blanchard. No caso de Portugal, as recentes previsões do Banco de Portugal apontam para um crescimento quase nulo da procura este ano - 0,1% e uma subida de apenas 0,9% em 2015. A manutenção de elevados níveis de desemprego e os cortes na despesa do Estado são factores que pesam nesta dinâmica,.
Segundo Olivier Blanchard, a procura interna fraca deve-se sobretudo a taxas de juro altas que são pagas pelas empresas portuguesas e espanholas. E a continuação de um consumo interno débil pode arrastar os preços para terreno negativo. Esta evolução não faz parte do cenário base para a maioria dos países, mas a deflação é a maior ameaça detectada pelo fundo à recuperação económica da zona euro. O risco resulta do gap que subsiste a nível da procura e que tem vindo a pressionar os preços para baixo - Portugal fechou 2013 com uma inflação homóloga de 0,2%. E este "é um risco que é preciso evitar", sublinha o economista chefe do FMI, e para o qual será preciso uma resposta adequada da política monetária e do Banco Central Europeu, no sentido de juros baixos. Os testes de stresse à solidez financeira dos principais bancos europeus são vistos pelo Fundo como o grande desafio.
Fora da zona euro, o "World Economic Outlook" salienta o crescimento de 2,4% do Reino Unido e a performance forte dos Estados Unidos cuja riqueza deverá aumentar 2,8% este ano.
A economia chinesa acelerou em 2013, graças ao reforço do investimento, mas esta tendência irá abrandar em 2014 e 2015 devido às medidas de travagem do crédito. O Brasil e a Rússia são decepções na evolução das maiores economistas mundiais. O FMI reviu em baixa as previsões de crescimento destes países para este ano e o próximo.