Pedro Crisóstomo, in Público on-line
A previsão é da Organização Internacional do Trabalho. Por ora, a recuperação económica ainda não chegou ao emprego.
Grécia, Espanha, Croácia, Chipre e Portugal: os cinco países da UE com os maiores níveis de desemprego Susana Vera/Reuters
Mais desempregados de longa duração, níveis de desemprego jovem elevados nos países desenvolvidos e uma grande massa de trabalhadores com empregos precários e em situação vulnerável. A leitura da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre as Tendências Mundiais de Emprego, relatório que a instituição publicou nesta segunda-feira, mostra como a recuperação da economia global não está a chegar ao mercado de trabalho.
No mundo, o número oficial de desempregados aumentou em cinco milhões de pessoas, passando para 202 milhões em 2013. Mas, ao mesmo tempo em que serão criados 40 milhões de novos empregos até 2018, aumentará progressivamente o número de desempregados, ultrapassando as 215 milhões de pessoas nesse ano. Isto significa que aos 202 milhões de desempregados de 2013 vão somar-se mais 13 milhões ao longo deste e dos próximos quatro anos.
À estimativa da agência das Nações Unidas para o ano de 2013 há que somar 32 milhões novos pedidos de emprego, mais 23 milhões de desencorajados (que desistiram de procurar trabalho) e ainda sete milhões de inactivos “que preferem não participar no mercado de trabalho”. E vão continuar a atingir os jovens “de forma desproporcionada”.
Dado o número de pessoas que habitam o leste e o sul asiáticos, estas regiões foram as que mais contribuíram para o aumento do desemprego, já que 45% dos novos pedidos de emprego eram dali originários. Seguem-se, depois, a África subsariana e a Europa. E quando se debruça sobre as economias desenvolvidas e a União Europeia, a OIT fala numa “retoma da actividade, [mas] não do emprego”.
Na União — onde o Eurostat estima que existam 26,5 milhões no desemprego —, Grécia, Espanha, Croácia, Chipre e Portugal têm as taxas mais altas. E se o desemprego estabilizou nos últimos meses na UE, está longe de voltar aos níveis anteriores à crise, dada a destruição de postos de trabalho que se acentuou com a aplicação de medidas de austeridade em vários países.
A OIT estima em cerca de 74,5 milhões o número de jovens desempregados (na faixa etária entre os 15 e os 24 anos). Ao todo, havia mais um milhão sem trabalho do que em 2012. Com isso, a taxa de desemprego jovem a nível global passou para 13,1%, “mais de três vezes superior” à taxa de desemprego da população com 25 ou mais anos.
“O crescimento do emprego continua a ser fraco, o desemprego continua elevado, particularmente entre os jovens à procura de trabalho, e um grande número de potenciais trabalhadores continua desencorajado e fora do mercado de trabalho”, lê-se no relatório.
Quase metade tem emprego precário
Outro foco de preocupação nas economias desenvolvidas: cresce o desemprego de longa duração. E “períodos de desemprego tão longos são prejudiciais a uma retoma mais rápida do mercado de trabalho”. Em alguns casos, nota a OIT, o tempo de duração no desemprego duplicou em relação ao período anterior à crise. E quanto mais tempo uma pessoa está numa situação de desemprego, mais dificuldade terá em “encontrar uma alternativa profissional num nível de qualificação ou de função equivalente” às competências académicas e profissionais ou ao emprego anterior.
Para além do impacto social, soma-se o impacto do fenómeno no peso das prestações nas contas dos sistemas de segurança social dos países. Enfatiza, a este propósito, a OIT que o desemprego “é um fardo para o erário público [dos países], levando os governos a aumentar os impostos ou a cortar noutras despesas, caso não queiram ou não possam aumentar o défice público”.
No mundo, segundo a organização, quase metade dos trabalhadores são considerados precários (trabalhadores independentes, como os recibos verdes em Portugal, ou trabalhadores não remunerados em empresas familiares, por exemplo). O emprego precário representava 48% de todo o emprego. E são trabalhadores que estão “mais susceptíveis” a ter um “acesso limitado, ou mesmo inexistente, à Segurança Social ou a uma remuneração segura. O número de pessoas em situação de emprego vulnerável aumentou em cerca de 1% em 2013, cinco vezes mais do que nos anos anteriores à crise”.