21.3.07

Cientistas explicam a adolescentes do Grande Porto como o ecstasy mata os neurónios

Andréia Azevedo Soares, in Jornal Público

Projecto Põe-te a Milhas das Pastilhas, criado pelo IBMC, aposta em argumentos científicos e não morais

Podia ser uma aula de Biologia Humana, mas não é. Fala-se de cérebros e de como o ecstasy pode alterar o seu funcionamento normal. Na Escola Secundária EB 2-3 Óscar Lopes, em Matosinhos, a cientista Teresa Sumavielle mostrou ontem a quase cem alunos imagens da estrutura química desta droga, capaz de "enganar" os neurónios fazendo-se passar por um mensageiro do cérebro chamado serotonina. O resultado desta "batota química" é o desgaste das células nervosas e, como consequência, a sua morte.

É assim, com evidências científicas, e não julgamentos morais, que o projecto Põe-te a Milhas das Pastilhas espera prevenir a toxicodependência entre os adolescentes. Cerca de dois mil alunos do 9.º ano já participaram nesta iniciativa do Instituto de Biologia Molecular e Celular da Universidade do Porto (IBMC), que contou com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. O instituto apostou no 9.º ano não só porque este é o último de escolaridade obrigatória, mas também porque estudos indicam que a iniciação no mundo das pastilhas costuma ocorrer no 10.º ano.

A sessão começa com explicações básicas sobre a comunicação entre os neurónios, as chamadas sinapses (um aluno na sala chegou a sugerir que as células nervosas trocassem mensagens por telemóvel, mas não, as conversas que ocorrem dentro da nossa cabeça só funcionam mesmo com impulsos eléctricos e neurotransmissores). Depois falou-se da zona do cérebro responsável pela sensação de prazer - o sistema de recompensa -, que é activada sempre que vivemos experiências de prazer e bem-estar. "A sensação de prazer provocada pelo ecstasy não corresponde a nenhum acontecimento real, é puramente química", explicou Teresa Sumavielle, investigadora do IBMC. Além de ilusória, esta sensação de prazer tem um preço alto em termos neurológicos: imagens de cérebros de símios obtidas por cientistas norte-americanos mostram como, após duas semanas a consumir oito doses de ecstasy, as ligações entre os neurónios dos macacos ficam mais reduzidas e débeis. Mesmo depois de sete anos de abstinência, os animais não normalizaram os circuitos neuronais.