29.3.07

Filhos de imigrantes nascem com mais problemas de saúde

in Jornal de Notícias

As diferenças de saúde, à nascença, dos bebés portugueses e dos filhos de imigrantes é o tema do estudo distinguido com o Prémio Bial de Medicina Clínica, ontem entregue no Porto, a uma equipa do Serviço de Pediatria do Hospital Amadora Sintra. Na categoria principal do mais importante galardão de investigação científica atribuído em Portugal foi premiada uma investigação sobre um tratamento inovador para a diabetes.

Na 12.ª edição do Prémio Bial - que distribuiu 200 mil euros por seis projectos de investigação -, foram distinguidos temas tão diversos como o cancro, doenças cardíacas, terapêuticas regenerativas, autismo, bem como a diabetes e as desigualdades sociais no acesso aos cuidados de saúde. Entre os 49 trabalhos apresentados a concurso, contam-se projectos de vários pontos da Europa, do Brasil e dos EUA.

O júri, presidido pelo médico e cientista Manuel Sobrinho Simões, atribuiu o Prémio Bial de Medicina Clínica (no valor de 50 mil euros) a uma investigação realizada no Serviço de Pediatria do Hospital Fernando Fonseca que evidencia a relação entre as desigualdades sociais e os indicadores de saúde. Intitulado "Iguais ou diferentes? Cuidados de saúde materno-infantil a uma população de imigrantes", o estudo incidiu em cerca de duas mil crianças 1116 filhos de portugueses e 837 de imigrantes. Uma das principais conclusões é que as famílias dos concelhos de Amadora e Sintra são genericamente mais desfavorecidas do que a média da população residente na área metropolitana de Lisboa.

Quanto à comunidade imigrante, as vulnerabilidades sócio-económicas revelam-se em piores índices de saúde: maior mortalidade fetal e neonatal, mais doenças durante a gravidez, nomeadamente infecciosas, o que pode justificar-se pelo início tardio das consultas. A equipa de investigadores, coordenada por Maria do Céu Machado, que é a actual Alta Cimossária da Saúde (responsável pela coordenação e execução do Plano Nacional de Saúde), verificou também que existe maior mortalidade perinatal nos filhos dos imigrantes relacionada com factores de risco como gravidez não vigiada, patologias da mãe e problemas sociais.

Outro dado revelador da carência assistencial sentida pelas famílias estrangeiras a residir naquela região, designadamente a falta de médico de família, é a maior procura dos serviços de urgências durante o primeiro mês de vida dos bebés. O principal galardão - o Grande Prémio Bial de Medicina, no valor de 150 mil euros - foi entregue a uma equipa belga cujas conclusões podem revolucionar o tratamento de uma doenças mais ameaçadoras do século XXI a diabetes de tipo I, causada pela destruição maciça de células beta produtoras de insulina.

As esperanças de encontrar uma cura passam pela restauração de células beta, seja por transplantação de células doadoras ou por regeneração de células beta no pâncreas. Denominado "Tratamento da diabetes com células beta", o trabalho vencedor delineia a estratégia rumo à cura da diabetes, visando a reposição de células beta no doente diabético tipo I. Foram, ainda atribuídas quatro menções honrosas.

Autismo e associação de doenças crónicas

O autismo em Portugal, os problemas inerentes à associação de quatro doenças crónicas na mesma pessoa, as células germinais da medula óssea do adulto e os benefícios da utilização do betabloqueante carvedilol em doentes com insuficiência cardíaca foram os temas distinguidos com menções honrosas (no valor de cinco mil euros cada).

Maior galardão de investigação em Portugal

Instituído em 1994 pela Fundação Bial, o Prémio Bial é atribuído de dois em dois anos aos projectos que apresentem maior relevância científica na área da Medicina. É o maior galardão científico entregue em Portugal. Em 12 edições, mobilizou 874 investigadores e distinguiu 173 profissionais de saúde.