21.3.07

Famílias do Bacelo querem ficar mais dois meses

Reis Pinto, in Jornal de Notícias

Numa manhã tranquila, a indiferença dos mais velhos contrastava com a alegria das crianças. No último dia do prazo dado pela Câmara do Porto para 16 famílias, de etnia cigana, deixarem o acampamento na Rua do Bacelo, no Freixo, Porto, só o número anormal de "estranhos" chamava a atenção. Um grupo de cinco moradores ainda tentou, ontem, ser recebido pela vereadora da Habitação, Matilde Alves, sem sucesso. A intenção era adiar o despejo por dois meses.

"A vereadora não quis receber-nos e mandou disser que Rui Rio já tinha opinião formada sobre este assunto. Mas nós não queremos ir para pensões, até porque as crianças andam na escola perto do Bacelo. Não nos importamos de sair, mas só para uma casa", revelou Vera Augusta.As famílias (16, incluindo 25 crianças) afirmam que não se importam de sair, mas só na modalidade "chave na mão". "Se estamos aqui há 20 anos, que diferença fazem mais 60 dias?", interrogava-se Fernando Gomes, um dos primeiros a ir viver para a Rua do Bacelo, paredes-meias com o Palácio do Freixo.

A Câmara do Porto afirmou que realojaria em habitações sociais as famílias que a elas tivessem direito. Um processo que deverá estar concluído em dois meses. Enquanto isso, as famílias ficaram alojadas em pensões. "Isso poderia ser uma boa notícia se não tivesse sido dada pelo presidente da Câmara do Porto. É que há famílias a viver em pensões há três anos. Por outro lado, duvido de que alguma pensão os admita e, depois, eles só saem com a garantia de terem novas casas", afirmou José António Pinto, assistente social da Junta de Campanhã.

Enquanto não são conhecidos os resultados da providência cautelar, entregue, anteontem, no Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto, pela a Plataforma Artigo 65 ,Vera Augusta brinca "Amanhã (hoje) só saio se me levarem ao colo". Com o despejo "marcado" para hoje, a Plataforma Artigo 65, um dos movimentos que se associaram aos moradores, anunciou a presença de figuras públicas, incluindo Helena Roseta, que visitou o local no passado sábado. A Câmara do Porto recusou, ao JN, tecer mais comentários sobre o assunto.