Cavaco Silva pede ajuda aos empresários da região

Carla Soares, in Jornal de Notícias

Presidente da República visitou casos de sucesso e inovação no Entre Douro e Vouga

Cavaco Silva apelou, ontem, ao envolvimento das comunidades locais na resolução da crise e pediu aos empresários que apostem na inovação. Para mostrar "os bons exemplos", o prresidente visitou empresas no Entre Douro e Vouga.

"Sou consumidor de vinho e não faço ideia do que está por detrás de uma rolha". A confissão de Cavaco Silva não poderia ter sido feita em melhor local. No meio do processo de produção de rolhas de cortiça natural, o presidente da República conheceu um novo tratamento para reduzir os aromas estranhos. O chamado tricloroanisol. A Cork Supply, que fica em São Paio de Oleiros, no concelho de Santa Maria da Feira, foi uma das empresas visitadas por Cavaco Silva no seu "roteiro das comunidades locais inovadoras".

A escolha do roteiro foi justificada pelo chefe de Estado com a necessária recuperação económica. "As comunidades locais inovadoras podem ajudar muito na resolução dos problemas sociais e à criação de riqueza", explicou, defendendo, em particular, "o fortalecimento da base produtiva dos concelhos". Além disso, destacou que "o poder local pode ajudar a identificar onde não há aproveitamento de recursos", sejam naturais, humanos ou de património.

A visita a empresas e centros de formação profissional, nomeadamente de pessoas portadoras de deficiência, numa região que enfrenta dificuldades, serviu ainda, segundo Cavaco Silva, para "dar confiança" aos portugueses. Da sua parte, mostrou-se confiante de que será possível "mobilizar os cidadãos" para a recuperação económica que, em seu entender, começará este ano mas "não será rápida". Ainda há "muito trabalho a fazer", alertou o chefe de Estado.

Na Cork Supply, ouviram-se palavras de motivação. O presidente da empresa em Portugal, o alemão Jochen Michalski, desdramatizou o risco de investir na região Norte. "A inovação é muito importante para a nossa empresa, o controlo de qualidade e também a qualidade dos nossos trabalhadores na empresa", disse, aos jornalistas. E alargou o elogio a toda a mão-de-obra do Norte, que considerou ser "extraordinária".

Por sua vez, o secretário de Estado da Indústria, Fernando Medina, recusou que aquela empresa seja um "caso raro" num Norte empobrecido. Diz, sim, tratar-se de "uma região particularmente dinâmica", onde empresas, também pela aposta na inovação e "grande capacidade de trabalho", conseguem "posições de liderança à escala mundial".

Antes, em Ovar, na Flex 2000, produtora de espumas do grupo Cordex, Cavaco ouviu um apelo contra os benefícios aos empresários estrangeiros. "Os industriais portugueses precisam de ser respeitados", pediu o administrador Carlos Pereira a Cavaco Silva, criticando a diferença na "abordagem" feita aos nacionais e os apoios a empresas que acabam por fechar. A propósito, disse que "o país não precisa de mais Yazakis". Confrontado com o apelo, Cavaco disse não crer "que se faça uma discriminação forte entre empresário nacional e estrangeiro". E Portugal "precisa" do investimento estrangeiro, da sua tecnologia e mercados. Por isso, "não podemos colocá-los em choque".

Além das duas empresas que visitou de manhã, o chefe de Estado esteve ainda na Deficiprodut, em Ovar, unidade que produz e vende, na Internet e porta a porta, artigos em pele produzidos por portadores de deficiência. Um dos casos de "inovação social" que visitou ontem, resumiu o presidente da República.