17.11.09

Pais querem filhos a estudar em casa durante recuperação

por Bárgara Wong, in Jornal Público

Nos primeiros dias estão mais prostrados, com febre alta, dores de cabeça, de garganta ou de barriga, mas só depois de sete dias é que podem regressar à escola. Até lá, os alunos com sintomas de gripe A podiam ir fazendo trabalhos para acompanhar o que se passa na sala de aula, defendem os pais. No entanto, a actuação das escolas varia muito.

João, seis anos, a fazer os TPC que a professora enviou por e-mail
Há professores que mandam trabalhos para casa, outros telefonam aos encarregados de educação e informam sobre o que os educandos podem ir fazendo enquanto não regressam à escola. Os mais tecnológicos deixam exercícios ou propostas na plataforma Moodle (um sistema on-line usado pelas escolas para informação e gestão da aprendizagem) para os alunos consultarem, ou enviam trabalhos por correio electrónico. O problema, dizem alguns directores de escolas contactadas pelo PÚBLICO, é que nem todos os pais se preocupam com esta matéria e muitas famílias não têm acesso à Internet.

Mal Joana (nome fictício), nove anos, começou a sentir-se mal-disposta, a escola pôs em acção o plano de contingência: foi-lhe medida a febre, foi encaminhada para a sala de isolamento e os pais foram chamados. Dias depois, a professora enviou por e-mail algumas indicações sobre o que estava a fazer na sala de aula e quais as fichas e exercícios que Joana devia realizar, conta o pai, que prefere não ser identificado por ser professor de 3.º ciclo numa escola pública onde ainda não mandou trabalhos porque, quando os estudantes faltam não justificam se estiveram doentes.

A EB 2, 3 José Cardoso Pires, na Amadora, está situada num bairro onde os pais não têm acesso às novas tecnologias e é a própria escola que se preocupa em saber o que se passa com os alunos quando estes estão mais de três dias a faltar. Muitas vezes, os pais "que não comparecem" quando há reuniões, também não avisam a escola quando os filhos estão doentes, revela João Pereira, adjunto do órgão de gestão. Por isso, em relação aos trabalhos, cada professor age conforme o aluno que está a faltar.

Na secundária Alfredo da Silva, no Barreiro, e nas EB 2, 3 de Santa Iria de Azóia e General Humberto Delgado, no concelho de Loures, a aposta tem sido no pós-quarentena, ou seja, quando regressam à escola, os alunos esclarecem as dúvidas com os professores e podem fazer trabalhos para recuperar.

Foi o que aconteceu com as filhas gémeas de Esmeralda Gonçalvinho, alunas da básica de 1.º ciclo Ressano Garcia, em Lisboa. Apesar de estarem em turmas diferentes do 3.º ano, depois de terem regressado à escola, as professoras enviaram trabalhos para casa. Nas aulas, as docentes vão fazendo revisões, até porque as meninas não foram as únicas a faltar. "É preferível repetirem, para a matéria ficar bem consolidada", avalia.

A plataforma Moodle pode ser a solução. Muitos docentes das escolas das Piscinas dos Olivais, em Lisboa, da D. Afonso III, em Faro, e da EB 2, 3 de Aradas, em Aveiro, estão inscritos e utilizam-na com regularidade. Contudo, nem todos os alunos têm acesso, alertam os responsáveis.

"Foi deixado ao critério das escolas quais as actividades a desenvolver", resume Maria José Viseu, presidente da Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (Cnipe), que revela que se há pais para quem os trabalhos de casa são importantes, outros consideram que a actualização do aluno deve ser feita em sala de aula.

Mas há outra opção, alerta a Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap): a plataforma da Escola Virtual, da Porto Editora (PE). "Se no 2.º período se confirmar a epidemia prevista, a opção de teletrabalho pode revelar-se importante", defende Albino Almeida, presidente da confederação, para quem os alunos não devem deixar de trabalhar no período em que estão em casa.

Através da Escola Virtual, os professores podem comunicar com os alunos pela Internet, além de esta plataforma oferecer manuais e exercícios para todos os anos. Em Agosto, a PE propôs ao Ministério da Educação negociar a Escola Virtual para todas as escolas mas, até hoje, ainda não recebeu qualquer resposta, informa Paulo Gonçalves, porta-voz da empresa.

Para já, os professores ainda não estão a faltar muito por causa da gripe A, informam as escolas. Por isso, concluem, as substituições têm sido feitas dentro da normalidade.