30.11.09

Crise e ambiente marcaram cerimónia de abertura

Por Luciano Alvarez, in Jornal Público

Os discursos do primeiro diafocaram-se nos problemas financeiros e ambientais. Sócrates apontou as lições a tirar da crise


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A inovação e o conhecimento é o tema da XIX Cimeira Ibero-Americana que ontem se iniciou em Lisboa. Mas foi a crise financeira, os sinais que dizem que se pode estar a sair dela e a defesa do ambiente, que terá uma cimeira na próxima semana em Copenhaga, marcaram a sessão inaugural do encontro de chefes de Estado e de governo. Os temas estiveram nos cinco discursos da noite, especialmente no do primeiro-ministro português, que apontou as lições que se devem tirar da crise. A primeira é que é preciso uma regulação mais eficaz do sector financeiro.

José Sócrates abriu a sessão e, depois dos agradecimentos, das palavras de boas vindas e de salientar a importância do tema da cimeira, foi directo ao assunto central: a crise financeira. E mais uma vez afirmou que "há sinais fortes" de que o pior já passou", e que espera que o processo da retoma económica, ainda que "lento", seja "sustentado".

"Foi a pior crise dos últimos 80 anos", lembrou o chefe do Executivo português. Por isso é necessário "tirar lições". Sócrates apontou três.

"Construir instituições e dispositivos à escala internacional que permitam uma regulação eficaz do sector financeiro" e impeçam "a repetição do triunfo da especulação de curto prazo sobre as necessidades da economia real" foi o primeiro.

Em segundo lugar, "a centralidade dos Estados e das políticas públicas": "Quando tudo o mais, na economia e nas finanças, parece falhar, é o Estado que não pode falhar. E os estados não falharam." Por isso, "os Estados devem continuar a cooperar, para que a globalização signifique mais oportunidades e progresso para todos".

A terceira lição tinha a ver com a importância das estratégias centradas na inovação e no conhecimento, os temas da Cimeira Ibero-Americana.

"A retoma será tanto mais rápida e o crescimento tanto mais sustentado quanto soubermos apostar na modernização económica e social", acrescentou, lembrando que os países precisam de "trabalhadores qualificados" e de "investimento criador de riqueza e emprego".

Daqui, Sócrates passou para o ambiente e para o a necessidade de uma economia amiga das boas práticas ambientais. E classificou a Cimeira de Copenhaga como "decisiva para o planeta", onde todos terão que "concentrar esforços e actuar de forma concertada em prol de um objectivo comum".

Cavaco Silva foi o último a falar. Com um discurso bastante mais curto que do primeiro-ministro, o Presidente da República dedicou um parágrafo à crise financeira, afirmando que esta só poderá ser "verdadeiramente ultrapassada" se dela se souber "extrair todos os ensinamentos". Isso significa ser-se capaz "de encontrar um modelo de desenvolvimento que concilie a liberdade, a democracia e a economia de mercado com uma eficaz defesa dos valores éticos".

"Um modelo de desenvolvimento que, para além disso, olhe para o planeta com o respeito que nos impõe a responsabilidade que todos temos perante as gerações que hão-de vir".

Cavaco Silva, salientou a mais-valia de uma estrutura como a Conferência Ibero-Americana, desafiando todos os países que a integram a tirar partido do seu "enorme potencial".

Antes, já António Guterres alto-comissário da ONU para os Refugiados (ACNUR), tinha lido uma mensagem do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon em que a cimeira de Copenhaga foi o tema central. Ban apelou aos líderes políticos ibero-americanos para que não deixem de estar presentes numa cimeira que "não se pode deixar falhar", afirmando que as notícias de que pode ser um fracasso "são mentira".

"Não podemos dar-nos ao luxo de falhar. Os custos seriam demasiado grandes. Quanto mais esperarmos pior será. Estou seguro do apoio da vossa liderança para conseguirmos um acordo e para o concretizar será decisiva", afirmou.

Guterres, já falando em seu nome, disse que as migrações, a segurança, as alterações climáticas e o problema energético e da água estão "a agravar, os desequilíbrios que, pela primeira vez, mostram um limite físico ao desenvolvimento da humanidade". "É preciso agir já. A nossa capacidade para inovar tem que ser posta em prática sem demora", afirmou.