30.11.09

Comunidade internacional tem de tirar lição da crise

por Susete Francisco, in Diário de Notícias

A cimeira sobre 'Inovação e Conhecimento' começou ontem com um acto oficial nos jardins da Torre de Belém. Hoje, no Estoril, começam os trabalhos, que devem ser dominados pela crise das Honduras


José Sócrates abriu ontem a XIX Cimeira Ibero-Americana com o aviso de que a comunidade internacional tem de saber "tirar as devidas lições" da "mais grave crise económica dos últimos 80 anos".

"O mundo pagou um alto preço pela opacidade e a irresponsabilidade que dominou os mercados financeiros", afirmou o primeiro-ministro português, defendendo que a comunidade internacional deve agora apostar numa "regulação mais forte, que dê garantias de impedir a repetição do triunfo da especulação de curto prazo sobre as necessidades da economia real". O Presidente da República, Cavaco Silva, que encerrou a cerimónia, deixou o mesmo alerta, sublinhando que o mundo "vem enfrentando uma crise económica e financeira com gravíssimas consequências sociais, que só poderá ser verdadeiramente ultrapassada se dela soubermos extrair todos os ensinamentos".

Cavaco Silva e José Sócrates foram os anfitriões da cerimónia inaugural da cimeira que junta em Lisboa, até amanhã, os chefes de Estado e do governo dos países ibero-americanos. Com o início formal dos trabalhos marcado para hoje, no Estoril, ontem foram os jardins fronteiros à Torre de Belém a servir de palco à cerimónia. Numa tenda gigante de plástico transparente, as várias delegações foram chegando a conta-gotas, o que atrasou a cerimónia em cerca de uma hora. À chegada, dois dos participantes tiveram direito a uma salva de palmas. Um foi o rei espanhol, Juan Carlos. Já o segundo aplauso teve uma carga mais política - foi dedicado a Patrícia Rodas, ministra dos Negócios Estrangeiro do governo deposto de Manuel Zelaya, nas Honduras.

Uma questão que passou pelos discursos de dois dos oradores, novamente com direito a aplauso. "Confiamos no reencontro da família hondurenha dentro da ordem constitucional", afirmou Enrique Iglesias, secretário-geral ibero-americano. Já o presidente de El Salvador (país que organizou a última cimeira), Mauricio Funes, desejou o regresso das Honduras à "normalidade democrática". Antes, já a mesma questão tinha sido discutida pelos chefes da diplomacia dos países participantes. Segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Luís Amado, "houve um debate vivo" sobre a situação nas Honduras. O ministro apontou divergências, "não sobretudo ao repúdio ao golpe militar nem ao reconhecimento do Presidente Zelaya como presidente legítimo, mas em relação ao resultado das eleições e às consequências deste processo eleitoral."

Na cerimónia de ontem António Guterres leu uma mensagem do secretário-geral da ONU apelando à participação geral na Cimeira de Copenhaga, sobre as alterações climáticas.