Emília Monteiro, in Jornal de Notícias
Onze por cento dos homens sinalizados pelo Espaço Informação Mulher já foram condenados.
Em oito meses, o gabinete dedicado pela Câmara de Guimarães às mulheres registou 24 novos processos de violência doméstica. As mulheres estão a perder o medo e a vergonha de apresentar queixa junto das autoridades.
Onze por cento dos homens sinalizados pelo Espaço Informação Mulher (EIM), criado pela Câmara de Guimarães, já foram condenados por violência doméstica e são reincidentes. Foram condenados mas continuam a 'conviver' com a vítima de maus-tratos. Desde Janeiro a Agosto de 2009, o EIM registou mais 24 novos processos (uma média de três por mês) envolvendo situações de violência familiar. "E o número não pára de aumentar", referiu fonte ligada ao Espaço.
Em traços gerais, o perfil do casal onde há violência é claro. O homem, agressor, tem mais de 40 anos, trabalha na construção civil e tem dependência de álcool ou droga. Ela é operária têxtil, tem vergonha de denunciar o marido e acredita que a agressividade passa "espontaneamente".
Existente desde 2001, a estrutura criada pela Autarquia vimaranense e coordenada por Francisca Abreu, vereadora da Cultura, tem como objectivo "proporcionar acesso à informação e orientação em áreas como a saúde e o emprego, promover a democracia paritária, diminuir e erradicar as desigualdades existentes e promover políticas de igualdade de oportunidades".
Contudo, a violência doméstica e o auxílio às mulheres vítimas de maus-tratos é, neste momento, a principal actividade do EIM.
"As mulheres estão a perder o medo de falar, de denunciar os maus-tratos físicos e psicológicos que sofrem por parte dos maridos ou companheiros", disse a mesma fonte. "Apesar de se verificar um aumento na sinalização dos casos às forças e entidades competentes, a reacção mais frequente por parte da vítima consiste ainda em não denunciar as situações", refere o relatório elaborado pelas técnicas do Espaço Informação Mulher. O sofrimento psicológico é comprovado pelo número de mulheres que recebem apoio na área da saúde mental: 79%. É no seio da família que ocorrem 92% das agressões.
Maioritariamente com o 1.º Ciclo de escolaridade, a idade média dos agressores é de 42 anos. "No que concerne à ocupação profissional, os agressores usufruíam do estatuto de operários da indústria extractiva e construção civil (16%) e da indústria transformadora (16%). O número de desempregados é 16%".
Quanto às mulheres, a maioria trabalha em actividades relacionadas com a indústria têxtil e do vestuário. "A privacidade, o silêncio, os valores religiosos e culturais, o desconhecimento dos direitos e da agressão como crime, as dependências emocional e económica, a intenção de proteger os filhos, a esperança que os comportamentos agressivos se alterem espontaneamente, bem como algum descrédito face às instituições especializadas na matéria, ainda são poderosos aliados da violência", refere o relatório.


