por Alfredo Teixeira, com Joana de Belém, in Diário de Notícias
O caso mais recente aconteceu ontem em Barcelos, quando os militares tentavam desarmar um barricado depois do alerta dado pela mulher. O idoso feriu a tiro, sem gravidade, um GNR
Todas as semanas há, pelo menos, um caso de militares agredidos em quadros de violência doméstica. No entanto, a GNR recusa-se a declarar as agressões como frequentes, por serem inúmeros os casos de violência sobre familiares a que acorrem semanalmente. "De facto tem havido várias situações, mas na realidade, no global, são pontuais, porque a GNR é muita activa nestas situações", disse ao DN fonte oficial da força de segurança. As agressões podem ser apenas com recurso a força física, mas, muitas vezes, são a tiro, como o caso do homem que ontem se barricou em Vila Frescainha - S. Pedro, em Barcelos, e que na altura da detenção baleou um militar.
Os vizinhos afirmam que nunca tiveram problemas com Domingos Ribeiro, de 72 anos. "Não era pessoa muito simpática mas, tirando isso, nunca se registaram desacatos", refere Gracinda Fernandes, vizinha. "Ultimamente, a mulher queixava-se que ele não nadava bem da cabeça, sempre a implicar com ela e a insultá-la. Nunca me disse que ele lhe batia. Eram mais agressões verbais", conta.
Domingos Ribeiro sofreu um AVC em Agosto e é a partir dessa data que a família começa a notar alterações no seu comportamento, ficando mais agressivo. O facto do casal de idosos ter sido burlado, há três meses, por um indivíduo que lhes bateu à porta afirmando ser seu familiar e a quem entregaram 300 euros, só piorou o seu estado. Começou a alimentar-se mal e nos últimos dias deixou de tomar a medicação. Bebia apenas, sobretudo Vinho do Porto, um cálice ao pequeno almoço e outro ao almoço.
Foi por causa do Vinho do Porto que as coisas pioraram anteontem à noite. O idoso bebia directamente da garrafa quando deu pela falta da rolha, acusando logo a mulher do seu desaparecimento. Insultou-a e revirou todo o lixo no chão. "Durante a discussão disse que lhe dava um tiro, como aquele outro que matou a mulher e um GNR e que viu na televisão", diz Gracinda Fernandes.
Maria Fernanda recolheu o lixo do chão e levou-o ao contentor. Quando regressou, Domingos tinha-se barricado no interior e nem os pedidos da mulher o demoviam. Maria Fernanda recorreu a Gracinda. "Tinha medo que ele se matasse", diz a vizinha que a aconselhou a pedir ajuda aos quatro filhos, todos adultos. Quando um deles tentou entrar no interior da casa por uma janela, o agressor disparou dois tiros de caçadeira.
Foi então que a GNR foi alertada às 19.00. No local foi montado um perímetro de segurança e os militares, com a ajuda da família, tentaram acalmar o barricado, sensibilizando-o para entregar a arma de fogo. Às 06.30 de ontem, a Guarda, através de três equipas de militares do Grupo de Intervenção de Operações Especiais entrou na residência, arrombando a porta e foram recebidos com dois disparos, tendo um deles atingido o antebraço de um dos militares que teve de receber tratamentos aos ferimentos. Também Domingo ficou ferido. Terá caído e batido com a cabeça numa mesa. Na altura foi-lhe apreendida a arma de fogo e 46 cartuchos. O idoso, antigo emigrante na Alemanha, está internado em psiquiatria do Hospital de S. Marcos, em Braga.


