José Vinha, in Jornal de Notícias
É um caso de sucesso e um exemplo de como se pode dar a volta à crise. Até ao ano passado, Cátia Rodrigues, solteira, de 29 anos, exerceu funções de chefe de secção numa das fábricas do grupo de calçado Investvar, que representa Aerosoles em Portugal, em Castelo de Paiva.
Percebeu que o futuro da Aerosoles estava em risco e que o despedimento seria inevitável. Tomou a iniciativa de propor a rescisão do contrato de trabalho, decidida a montar uma fábrica para prestar serviço à própria Aerosoles. Acabou por cair no desemprego, até meados deste ano, período que aproveitou para desenvolver um projecto com vista a criar uma micro-empresa na área do calçado.
Cátia Rodrigues contactou o IEFP, em S. João da Madeira, e o Centro de Apoio à Criação de Empresas do Vale do Sousa e Baixo Tâmega, sediado na Zona Industrial de Felgueiras, Sobrado (Castelo de Paiva) aos quais apresentou um projecto para a criação de uma fábrica de corte e costura de calçado. "Enquanto estava desempregada projectei a minha empresa. Não queria voltar a ser operária por conta de outrem, não tinha saída profissional à vista e, como já conhecia o ramo do calçado, aventurei-me a montar a minha própria fábrica", conta.
O processo burocrático foi extenso e "demorou imenso tempo", mas em Agosto deste ano iniciou a laboração. Denominada Saltypula, a fábrica de corte e costura de calçado de Cátia Rodrigues já emprega 16 pessoas, todas mulheres e ex-operárias da C.J. Clark's, a empresa inglesa de calçado que se instalou em Castelo de Paiva em 1988, vindo a encerrar e a mandar para o desemprego centenas de trabalhadores.
Cátia Rodrigues candidatou-se a uma Iniciativa Local de Emprego, promovida pelo IEFP, tendo proposto a criação imediata de oito postos de trabalho. Rapidamente duplicou a oferta de trabalho, tendo em conta as necessidades do mercado. "Trabalhamos essencialmente para grandes empresas de calçado em regime de subcontratação na prestação de serviços", explica.
O investimento já realizado ronda os 100 mil euros, sobretudo em máquinas de corte e costura, e não têm faltado encomendas. Com capacidade para gaspear 300 pares de sapatos/dia (parte dianteira do rosto do calçado que cobre o pé, e é cosida), a empresa tem prestado serviço, sobretudo, a fábricas de calçado de Felgueiras e Vale de Cambra.


