Alexandra Serôdio, in Jornal de Notícias
Vieram de todo o país, mas também do estrangeiro. Mais de 80 mil peregrinos, que encheram ontem, quarta-feira, o Santuário de Fátima, procuraram consolo, respostas e pediram ajuda para suportar "as dificuldades da vida". Na hora do adeus, as lágrimas não foram contidas.
Em época de crise, todas as preces parecem ser poucas. "Vamos pedindo ajuda mas também agradecendo à Senhora", explica Maria Antónia, admitindo que, "nesta altura, o importante é ter saúde e continuar a trabalhar". Vem com o marido de Viseu, desta vez de carro, porque "as pernas já não permitem andar muito tempo a pé", frisa.
Com lágrimas nos olhos e de pétalas de rosa nas mãos - que atira à passagem do andor que transporta Nossa Senhora, desta vez carregado em ombros pelos Bombeiros da Aguda -, Adelaide entoa com fervor o Avé de Fátima. "Tenho muita fé, menina. Só Nossa Senhora nos pode valer nestas alturas difíceis. Estou a rezar pela família, mas também pelos amigos porque alguns perderam emprego e estão a viver dificuldades", revela.
As histórias de sofrimento e de dificuldades são uma constante entre os milhares de peregrinos. Na última peregrinação do ano, muitos traziam histórias de vida complexas, algumas marcadas pelas dificuldades económicas.
"Perdi o emprego apesar de ter idade, vontade e saúde para trabalhar. Não sei o que vou fazer", diz desesperado Francisco, olhando fixamente os olhos da mulher, Mariana, que o acompanhou desde uma aldeia do concelho da Guarda.
As dificuldades das famílias foram também lembradas pelo cardeal arcebispo de São Salvador da Bahia, Brasil. Na sua homilia, D. Geraldo Majella Angnelo pediu a Deus que ficasse com "as famílias, iluminando-as nas suas dúvidas, sustentando-as em suas dificuldades, consolando-as em seus sofrimentos e no cansaço de cada dia, quando ao redor delas se acumulam sombras que ameaçam a sua unidade e sua natureza".
"Fica, Senhor, com aqueles que em nossas sociedade são os mais vulneráveis; fica com os pobres e humildes, com os indígenas e afro-americanos, que nem sempre encontram espaços e apoio para expressar a riqueza de sua cultura e a sabedoria de sua identidade", pediu.
O cardeal brasileiro falou ainda da fé católica onde "surgem as névoas da dúvida, do cansaço ou da dificuldade" e das "sombras" que "se vão tornando mais densas" na vida das pessoas. "Em nossos corações se insinua a desesperança. Estamos cansados do caminho", afirmou.
As celebrações contaram com a presença de 13 bispos portugueses e estrangeiros e 343 sacerdotes e diáconos.


