9.10.10

Mais de metade dos jovens portugueses vivem com os pais

Por Natália Faria, in Jornal Público

Porque estudam mais tempo mas sobretudo por causa da precariedade laboral, os jovens portugueses estão entre os que mais adiam a saída da casa paterna


Cerca de 58 por cento dos portugueses com idades entre os 18 e os 34 anos ainda vivem com os pais. O último relatório do Eurostat, que se debruça sobre as condições de vida dos jovens na Europa a 27, mostra que os jovens portugueses estão entre aqueles que mais adiam o momento de sair de casa dos progenitores: na Dinamarca apenas 12 por cento dos jovens entre os 18 e os 34 anos continuam em casa dos pais e a média na UE é de 46 por cento.

O levantamento do organismo estatístico da UE, que compara indicadores de 2008, confirmou que nos países do Sul da Europa a percentagem de jovens que tardam em cortar o cordão umbilical é três ou quatro vezes superior à dos países do Norte. Independentemente da geografia, a tendência para permanecer junto dos progenitores é 12 por cento maior entre os rapazes do que entre as raparigas.

O prolongamento da vida académica é uma das explicações adiantadas pelo Eurostat, sobretudo na faixa etária 18-24, na qual 55 por cento dos jovens continuavam a estudar. Já no grupo 25-34 anos, a taxa dos que continuavam na escola caía para os 13,4 por cento. No caso português, e no grupo 18-24 anos, os jovens que continuavam a estudar perfaziam 46 por cento dos jovens daquela faixa que continuavam com os pais. Já no grupo 25-34 anos, os estudantes eram apenas 12 por cento, contra uma média europeia de 17 por cento.

Muito à conta da precariedade laboral, o relatório confirma que ter um emprego nem sempre permite aos filhos sair de casa. Atente-se primeiro nos números: em 2008, 51,1 por cento dos jovens entre os 18 e os 34 anos que coabitavam com os pais trabalhavam a tempo inteiro ou a meio tempo (9,5 por cento estavam desempregados). Fazendo um zoom sobre Portugal, conclui-se que os jovens que, apesar de terem um emprego, não tinham deixado o ninho eram superiores à média comunitária: 60 por cento. Acima, só Lituânia, Bulgária, Áustria e Malta.

Voltando à média comunitária, entre os jovens que já trabalhavam apesar de viverem ainda com os pais, 36 por cento tinham um contrato temporário. E, independentemente da variação da taxa nos diferentes países, as razões apontadas eram semelhantes em todos: os contratos temporários não permitem a assunção dos encargos inerentes a ter casa própria. "Esta elevada percentagem pode ser resultado da crescente flexibilização do mercado de trabalho", apontam os autores do relatório, para reforçar mais à frente que "a ausência da segurança inerente a emprego de longo termo contribui para estas saídas tardias da casa dos pais".