in Jornal de Madeira
Ano Contra a Pobreza acaba por ser o pior
O Ano Europeu de Luta Contra a Pobreza tornou-se no “pior ano” para as famílias e o trabalho feito até agora é só o "princípio de um processo" sem fim à vista, segundo disse ontem o presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza (REAP).
“Este foi um ano de uma certa amargura. O trabalho feito até agora é o princípio de um processo que infelizmente não sei quando vai ter fim”, disse Agostinho Moreira à Lusa, à margem do II Forúm Nacional de Pessoas em Situação de Pobreza, que ontem decorreu no Parlamento, em Lisboa.
Evocando a “crise inesperada” que arrastou milhões para o desemprego e provocou o endividamento de milhares de famílias, o presidente da REAP disse que a Europa e Portugal ficaram num “atoleiro”.
“O Governo português está preso num sistema europeu que é perverso, já que produz por ano um milhão de pobres”, disse Agostinho Moreira, considerando urgente uma “mudança profunda”: “Enquanto não formos capazes de regulamentar o poder económico estaremos sempre escravos e seremos impotentes para mudar a situação”.
O presidente da REAP entende que é preciso um “exercício correto da aplicação das leis e de distribuição de subsídios” e que se deixe de olhar para o acesso aos direitos como uma esmola para passar a vê-lo como um direito individual.
“Eu não admito que se dê por esmola aquilo que as pessoas têm direito a receber enquanto pessoas”, disse, explicando não defender uma lógica de subsídios: “A pobreza só se deve resolver pelo desenvolvimento pessoal e não por subsídios”.
Sobre a ação do Governo, Agostinho Moreira reconheceu que a época é difícil e que, apesar da “boa vontade”, “a concretização das medidas fica muitas vezes por realizar”.
Num encontro com a presença de Jorge Lacão, Agostinho Moreira frisou o facto de o ministro dos Assuntos Parlamentares ter “deixado a porta do seu gabinete aberta para futuras concretizações”.
Por seu turno, Jorge Lacão lembrou que Portugal está “confrontado com desafios muito complexos” e embora dmitindo que os números da luta contra a pobreza ainda “estão longe do nível desejado”, lembrou alguns dados sobre a evolução do país nas últimas décadas.
Durante o encontro, os presentes debateram ainda cinco propostas para a erradicação da pobreza apresentadas pela Rede Europeia, entre as quais consta a criação de um Programa Nacional e de uma "economia social mais humana".


