in Diário Digital
Ser da Cova da Moura, na Grande Lisboa, é também ter mais dificuldades no acesso ao emprego e mais facilidade em entrar no crime. Mas Heidir, um morador, acredita que há sabura neste bairro ilegal e quer prová-lo à sociedade.
Heidir, morador e responsável pelo projecto Sabura, da Associação Moinho da Juventude, reconhece que os jovens do bairro têm muitas dificuldades em encontrar um emprego “só porque são da Cova da Moura” e que o mais fácil é seguir caminhos delinquentes.
Mas há quem contrarie a tendência e quem trabalhe todos os dias para combater a exclusão social e mostrar aos jovens que há uma alternativa ao crime e à marginalidade: o projecto Sabura é exemplo disso.
A palavra é crioula e não se traduz em português. “Significa tudo o que é positivo. Se tens um dia bom, foi só sabura; se foste a uma festa boa, foi só Sabura”, explicou à Lusa Heidir, à margem de uma visita ao bairro, organizada pelo projecto ‘Fermento: Comunidades em Crescimento’, da Fundação Aga Khan e da TESE – Associação para o Desenvolvimento.
E a Cova da Moura tem sabura? Heidir acredita que sim e quer provar isso à sociedade. O projecto é um roteiro por restaurantes, cafés, cabeleireiros, mercearias e outros estabelecimentos da Cova da Moura, com que a população pretende “quebrar o estigma” que a sociedade ainda tem e “divulgar o lado positivo do bairro”.
“Fazemos visitas guiadas, mostrando todo o trabalho que a associação [Moinho da Juventude] desenvolve em prol da comunidade. É uma associação com cento e poucos projetos e este [Sabura] também mostra um pouco da multi-culturalidade do bairro e faz a dinamização dos estabelecimentos que aqui existem”, conta Heidir.
Um projecto “de dentro para fora”, para atrair gente que não é do bairro e mudar a “má imagem” que a Cova da Moura ainda tem mas que “está a mudar muito”.
Heidir conhece bem o lado marginal da vida, viveu-o “na pele”. O tráfico de droga levou-o à prisão mas foi capaz de sair da criminalidade e agora trabalha todos os dias para evitar que “os jovens caiam no mesmo erro”.
No Ano europeu de Luta Contra a Pobreza e Exclusão Social e a dois dias do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza (domingo), a Fundação Aga Khan e a TESE – Associação para o desenvolvimento, organizaram o evento ‘Fermento: Comunidades em Crescimento’.
Zara Merali, da Fundação Aga Khan, explica que o evento “é uma oportunidade para que os vários projectos se encontrem, se conheçam, troquem ideias e experiências”.
Ao todo são 18 projectos que fazem parte do evento. Todos “nasceram da iniciativa dos moradores que não ficaram à espera que a Segurança Social lhe desse algum apoio e decidiram fazer alguma coisa para mudar as suas vidas”.
O projeto Sabura é apenas um entre os mais de cem que a associação Moinho da Juventude desenvolve na Cova da Moura. Com eles, apoia mais de 90 famílias e cerca de 400 crianças, além dos idosos e dos jovens em risco de abandono escolar.
“Tudo isto pelo bom nome do bairro”, pela sabura da Cova da Moura. Aqui todos se apresentam pelo nome e todos se cumprimentam na rua. Aqui moram dez mil pessoas, contando com os que as estatísticas excluem e aqui “só não entra quem não quer”, garante Heidir.
Na fachada da sede da associação, está escrito a graffiti “um outro mundo é possível, se a gente quiser”. E esta gente quer.


