19.10.10

Raparigas obrigadas a roubar sob coacção física

por Alfredo Teixeira, in Diário de Notícias

Rede criminosa do Leste actuou em todo o País, realizando roubo de ouro em residências. MP acusa seis elementos de 239 crimes.

As raparigas que integravam a rede criminosa do Leste "eram coagidas fisicamente por quem as tutelava para obter determinados objectivos", afirmou ontem na segunda sessão do julgamento que decorre no Tribunal de S. João Novo, no Porto, um comissário da PSP que liderou as investigações. Durante as acções de vigilância encetadas pelos agentes, muitas das suspeitas, que roubavam ouro em residências, ostentavam marcas de agressão física.

"Víamos marcas no corpo de violência física", afirmou João Luís Suima. Pisaduras e braços ao peito foram situações detectadas pelas PSP. A muitas destas situações a polícia perdeu, no entanto, o rasto, e dos 21 membros que integrariam esta rede apenas seis respondem agora criminalmente. Também como explicou ontem o chefe Cláudio Moutinho, quando as jovens eram abordadas ou apanhadas em flagrante, afirmavam ter menos de 16 anos. Eram levadas ao Tribunal de Família e Menores, que as encaminhava para instituições onde ficavam em regime semiaberto.

A partir daí actuavam em contravigilância eficaz. Saíam a correr dos locais onde pernoitavam, entravam em táxis e quando chegavam ao destino tinham já vestida outra roupa e usavam o cabelo de forma diferente. Numa das vezes, recordou o chefe da PSP, uma das raparigas deslocou-se de táxi até ao Hospital de Aveiro. Suspeitando de estar a ser seguida, preencheu ficha na urgência e, 15 minutos depois, saiu daquelas instalações por outra porta.

As primeiras suspeitas deste grupo, oriundo da Sérvia, Croácia e Montenegro, surgiram na zona da Costa de Caparica mas só em finais de 2008 é que a polícia começa a apertar o cerco, quando a célula da rede e um grupo de raparigas foi detectado em Espinho. Já antes tinha dado nas vistas na Póvoa de Varzim.

O modus operandi era simples: enquanto as raparigas realizavam roubos em várias residências, em locais como S. João da Madeira Santa Maria da Feira ou Guimarães, os cabecilhas (dois homens) aproveitavam para jogar no casino. Daí a escolha destas cidades junto ao mar. Tanto a Póvoa como Espinho têm casinos assim como o destino seguido mal detectaram que estavam a ser investigados. Fugiram para o Algarve, instalando-se em Vilamoura.

Ao grupo, o Ministério Público (MP) imputa 239 roubos de ouro, jóias e dinheiro, no valor de 6,4 milhões de euros. Muito deste material foi levado para Espanha.